quarta-feira, 9 de julho de 2014

CLARA DA LUA CHEIA

  
     NALDOVELHO

     Ela cheirava a jasmim,
     pele branca pontilhada de sardas,
     olhos claros e assanhados,
     voz rouca e penetrante,
     desavergonhadamente sensual.

     E assim, ela se sentou abusada,
     pediu um Martine Bianco,
     abriu sua bolsa e tirou de lá
     um maço de cigarros.
     Quis saber se me incomodava,
     justificou-se, afirmando ser aquela
     uma de suas bengalas.
     Perguntei se existiam muitas outras,
     ela sorriu e disse: muitas mais!

     Clara da Lua Cheia,
     de uma noite friorenta de julho,
     e eu ali, naquele bar a apreciar os detalhes:
     mais ou menos um metro e sessenta,
     corpo bem delineado
     numa roupa fina e provocante,
     cabelos ruivos e ondulados,
     e um jeito de se mover
     que enlouquecia qualquer cristão.

     Clara da Lua Cheia,
     que mora ali adiante,
     penúltima casa a direita,
     segundo quarteirão,
     no sentido de quem desce;
     aquela assobradada!
     Já fui lá uma vez!
     Pelo visto, vou voltar outras mais,
     muitas mais!



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