NALDOVELHO
E era aquela a vestimenta mais adequada
para aquele momento. Um finíssimo vestido preto, um discreto véu sobre o rosto,
um generoso decote numa figura impossível de se ignorar.
E assim ela chegou à igreja para homenagear
o Compadre Juvenal. O padre horrorizado desceu do púlpito e indignado a impediu
de entrar.
- Isto lá são trajes Dona Carol,
com este decote, não pode! Aqui é uma igreja, a casa do senhor, um lugar
sagrado.
Dona Carol surpresa, se pôs a
dizer:
- Mas seu padre, o Juvenal,
adorava, e ele dizia sempre da beleza dos meus decotes, e eu acho que esta
seria a melhor maneira de homenageá-lo, pois eu sei que esteja ele onde estiver
certamente iria apreciar.
- Sacrilégio mulher! Eu sempre soube
que você era irrecuperável, isto não são modos, mas parece uma vadia, aqui assim
a senhora não pode entrar.
Desconsolada Dona Carol não sabia
o que dizer. Imagine não poder assistir a missa de corpo presente do Juvenal!
Ele que sempre fora tão bom, que tanto havia feito por ela.
Rapidamente, uma senhora, uma das
filhas de Maria, com um olhar de reprovação, veio com um pesado xale e lhe
cobriu o decote, como se fora uma mortalha. E assim a missa pode prosseguir.
Dona Carol nunca mais foi à
igreja, sentiu-se humilhada por aquele pároco, até porque muitas e muitas vezes
ele se insinuara, e vivia de olho nos seus seios, como se fosse um ser humano
normal, igual, um desses que não resistia ao pecado!
Semana passada, por toda a cidade
corria a notícia: Dona Carol tinha sido colocada para fora de sua casa pelos
filhos do primeiro casamento do Compadre Juvenal e havia voltado a morar na Casa
dos Jambeiros. E a cena patética do seu despejo, fora presenciada e
incentivada pelo pároco e pelas filhas de Maria que comentavam satisfeitas, que
enfim ela havia voltado para onde nunca deveria ter saído, e que lá era o seu
lugar.
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