NALDOVELHO
Quando
o galo cantou três vezes
o
sol era só uma promessa
e
na linha do horizonte eu via
uma
tênue luz envolta em cobertas.
Era
a madrugada que surgia
e
quase ninguém percebia,
só
eu vivia o dia que nascia.
Quando
o galo cantou três vezes,
eu
fiz promessas pros santos,
disse-lhes
que não cometeria mais pecados,
que
não seguiria mais trilhas estranhas,
que
não fumaria mais cigarros,
tão
pouco beberia aguardente,
nada
mais de becos sombrios,
nem
tangos, nem boleros, nem fados.
Quando
o galo cantou três vezes,
um
blues sangrava em desespero
num
quarto de motel barato
e
uma mulher debruçada sobre o meu corpo
derramava
seu canto,
enquanto
uma bailarina dançava
sobre
o fio de uma navalha.
Quando
aquele dia amanheceu,
uma
sombra caminhava pela cidade,
ruas
e calçadas molhadas, mês de setembro,
final
de inverno, se bem me lembro,
e
a porta da bar precocemente aberta
acolhia
meus tropeços, meus recomeços.
E
ali mesmo, nos intestinos da cidade,
tomei
mais uma dose da mais pura aguardente,
fumei
mais um monte de cigarros,
e
me aprontei para viver um outro dia
e
cometer mais pecados.
Quando
aquele dia terminou eu percebi,
que
nem todo o poema que eu escrevo fala de amor.
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