sexta-feira, 11 de setembro de 2015

MINHA SINA DE SER FADO

    NALDOVELHO

    Minha sina de ser fado,
    lágrima derramada em silêncio,
    guitarras emudecidas no armário,
    e um poema sufocado em meu peito
    reclama e pede passagem,
    mas eu não sei onde guardei a chave.

    Minha sina de ser sonho
    a buscar caminhos
    pelos estreitos de concreto
    das ruas da minha cidade
    e de ficar aprisionado
    em becos sombrios de saudade.

    Minha sina de ser vento
    que passa e derruba
    castelos de areia,
    que espalha sobre a mesa
    poemas, cartas, bilhetes,
    que se alimenta de palavras
    e se aprisiona aos significados.

    Minha sina de ser nostalgia,
    poeta que vive em meio a escombros,
    que a cada passo tropeça e caí,
    que continua a achar
    que lhe falta um pedaço,
    que abre a janela e suplica
    a quem por maldade o levou
    que tenha a fineza de devolver.

    Minha sina de ser fado
    com cheiro de bolero cubano
    e ardido como se fosse um blues!

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