NALDOVELHO
A casa vazia lamentava
a solidão dos seus quartos,
chorava as vidraças quebradas,
a poeira por todo o canto
entranhada,
o cheiro de adeus impregnado nas
paredes,
a umidade e o mofo acumulados por
meses e meses.
A casa vazia sente saudade
dos sonhos que por lá nos brindavam,
das horas que pulsavam ternuras,
da delicadeza das nossas
loucuras,
das palavras que carinhosas se
abraçavam,
da poesia que fomos capazes de
cometer.
A casa vazia entristecida hoje chora...
Goteiras, rachaduras, prenúncio
de demolição,
fantasmas abraçados aos detritos,
é noite ainda e o silêncio é
insuportável.
E na sala, em cima do piano, um
livro empoeirado,
parece um diário, coisas escritas
sobre nós dois.
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