NALDOVELHO
Eu tenho águas que brotam tardias
e que o fazem sem fazer alarde,
escorrem mansas e me acariciam,
mas também nublam meus olhos
e inundam a tarde
de uma ternura que não já cabe
mais dentro de mim.
Eu tenho águas que escorrem
outono,
que fertilizam vastos campos de
sonhos,
que renovam rotas e planos,
pois a cada entardecer eu me vejo
envolto numa delicadeza
que floresce em torno de mim.
Eu tenho águas que anoitecem
certezas,
de lua cheia, mistérios,
feitiços,
fantasia, magia, loucura,
pois a cada poema eu me vejo
mais próximo de curar a solidão
que ainda sangra em mim.
Eu tenho águas que buscam
distâncias
e é nelas que eu preciso navegar,
ainda que eu não saiba direito
aonde elas possam dar.