NALDOVELHO
Enquanto você, aí do outro lado
da vida,
tenta desesperadamente amanhecer,
eu por aqui, anoiteço ao som de um
blues
e vejo uma lua descaradamente
sedutora,
dou uma volta pelas ruas da
cidade
e colho poeira de estrela
encharcada de orvalho,
e me enveneno com a nostalgia
que maresia da orla me traz.
Enquanto você, aí do outro lado
da vida,
escreve cartas numa língua
estranha,
eu por aqui, aprendo palavras de
anjo,
e com elas cometo heresias,
acolho em meu quarto, formosa
Iara
e aprendo com ela o mistério das
ervas,
pura feitiçaria de quem venceu
sua dor.
Enquanto você, aí do outro lado
da vida,
lê num jornal as notícias de
ontem,
eu por aqui escrevo um livro,
que provavelmente você nem irá
ler,
pois quando você resolver
anoitecer,
eu e meus poemas seremos pedra
depositada nas margens de um rio,
ritos sagrados da lua cheia,
poesia de quem morreu por amor.
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