domingo, 17 de agosto de 2014

CRÔNICA DE UMA LUA INQUIETA


NALDOVELHO

Lua inquieta, horas ardidas de frio, ruas que parecem desertas, mas sempre haverá o arrepio, um assombro num beco vazio, alguém abraçado aos escombros, tentando se libertar.

E a porta daquele bar aberta, uma boa dose de conhaque e na radiola, sonoridades da alma, e um saxofonista faz um estrago; contrabaixo, bateria e piano, harmonias de desenganos nas teias intrincadas de um jazz.

Ela se achega e pede um cigarro, carrega um sorriso amargo, beleza embaçada por mágoas. Pergunto se quer um conhaque, mas ela prefere um vermute, diz que é para suavizar a noite, pois o sol não tarda a raiar. Pergunta, então, o meu nome, e se a solidão também dói em mim, e os meus olhos respondem que sim!

Olhares, cumplicidades, afagos... Pago a conta e me enlaço em seus braços, e vamos pelas ruas silentes, em direção ao meu quarto e refúgio, entrelaçar nossos corpos sedentos, fingir que vivemos um sonho.

Chego à porta do meu quarto e estremeço com o vazio das horas. Ela disse com um aceno que vinha, mas sumiu na última esquina, evaporou em meio à neblina e nem me disse adeus. E eu nem sei o seu nome!

Crônica de uma lua inquieta numa noite friorenta de inverno, solidão em meio aos escombros, loucura a me causar arrepios. Vou para a cama e durmo, já nem sei se me importam os porquês. 

Hoje, já é um novo dia e eu continuo nessa cidade, exilado que sou de Você.


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