NALDOVELHO
Anjos despidos de suas asas
e embriagados pela insensatez,
gesticulam e afirmam que sim.
Outros esbravejam enraivecidos,
ameaçam a todos com suas espadas
e afirmam que não!
Ao caminhar pelas ruas
um homem escorrega e caí,
fica abraçado à sarjeta,
e só depois de um tempo,
se arrasta para um beco escuro,
adormece e sonha ter encontrado a paz.
Crianças brincam pelas praças,
sorriem para os que passam,
enquanto se alimentam
dos pecados dos seus pais.
Num templo, um homem travestido de santo,
recolhe um dízimo a cada hora,
vende lotes no paraíso
e em suas mãos uma procuração
que ele afirma ter sido passada pelo pai.
Enquanto isso eu descubro
que o diabo construiu
em torno de nós um muro.
Sonhadores visionários e poetas
abraçados diante das impossibilidades
cantam um hino de louvor
aos nossos tropeços, aos nossos recomeços.
Um hino que diz que o céu é aqui,
que mais cedo ou mais tarde saberemos,
e, quando assim for, poderemos dele usufruir.
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