quarta-feira, 6 de agosto de 2014

ANJOS CAÍDOS

   NALDOVELHO

   Anjos despidos de suas asas
   e embriagados pela insensatez,
   gesticulam e afirmam que sim.
   Outros esbravejam enraivecidos,
   ameaçam a todos com suas espadas
   e afirmam que não!
   Ao caminhar pelas ruas
   um homem escorrega e caí,
   fica abraçado à sarjeta,
   e só depois de um tempo,
   se arrasta para um beco escuro,
   adormece e sonha ter encontrado a paz.
   Crianças brincam pelas praças,
   sorriem para os que passam,
   enquanto se alimentam
   dos pecados dos seus pais.
   Num templo, um homem travestido de santo,
   recolhe um dízimo a cada hora,
   vende lotes no paraíso
   e em suas mãos uma procuração
   que ele afirma ter sido passada pelo pai.
   Enquanto isso eu descubro
   que o diabo construiu
   em torno de nós um muro.
   Sonhadores visionários e poetas
   abraçados diante das impossibilidades
   cantam um hino de louvor
   aos nossos tropeços, aos nossos recomeços.
   Um hino que diz que o céu é aqui,
   que mais cedo ou mais tarde saberemos,
   e, quando assim for, poderemos dele usufruir.

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