sábado, 23 de agosto de 2014

NÃO TEM SERVENTIA “PROCÊS”!

    NALDOVELHO

    Pedrinha redondinha de beira de rio
    que nunca matou passarinho,
    faca afiada de fatiar poemas
    que nunca sentiu gosto de sangue,
    tesourinha de picotar emoções,
    às vezes gosto de embaralhar a vida,
    brincar de quebra cabeça depois;
    retrato da minha amada,
    a sete chaves em segredo,
    de modo que só eu possa ver,
    um pedacinho de lua cheia
    que eu garimpei, faz tempo,
    Zona da Mata, Minas Gerais,
    um pequeno e perfumado lencinho
    com o nome daquela menininha
    que beijou com gosto de amora,
    depois desapareceu na fumaça
    e não voltou nunca mais;
    uma bússola quebrada,
    nem me lembro de quando perdi o rumo,
    só sei que foi há muito tempo!
    três livros de poesia, versos pretensiosos,
    registro dos meus ais,
    numa pequena caixinha de madeira,
    pétalas ressequidas, espinhos
    e um lindo e imantado terço
    que a Irmã Adélia abençoou.
    E eu continuo a colecionar
    miudezas, estranhezas, delicadezas...
    O dia que eu morrer, enterrem tudo comigo,
    não tem serventia “procês”

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