NALDOVELHO
Quem roubou de mim
a palavra que andava
engasgada em minha garganta?
Quem roubou dos meus lábios
o sorriso que eu não sorri,
dos meus olhos a lágrima
que eu não chorei,
das minhas mãos o carinho
que eu não ofertei?
Quem roubou de mim
a dor que eu não sofri,
a saudade que eu não senti,
a carta de amor que eu não enviei?
Quem roubou a janela
que estava aqui,
a porta que estrategicamente
eu destinei para fugir,
a mentira que eu cansei de
mentir?
Quem roubou de mim o sonho
que por anos e anos
eu ingenuamente sonhei,
a inquietude que eu alimentei,
a possibilidade de descortinar
os mistérios que eu ainda não revelei?
Quem roubou o sol, a lua,
a rua, a madrugada, as esquinas,
a insônia, a loucura, a ternura?
Quem roubou de mim o poema
que eu não escrevi?
Nenhum comentário:
Postar um comentário