NALDOVELHO
Eu conheci um anjo safado
que adorava perambular pelas ruas,
sentar no meio fio das calçadas,
só para olhar as pernas das meninas
e ainda arriscava um suspiro meloso
na esperança de que ficassem apaixonadas,
pois era louco para cometer um pecado
e dizia: coisa gostosa as coxas roliças
de uma bela mulher!
Ele adorava lamber uma pinga,
gostava também de café forte e melado,
e nos finais de tarde se escondia
num beco sombrio e tristonho
para fumar todas as bingas
colhidas em suas andanças,
e afirmava ser seu baseado,
e ali refletia sobre os seus desenganos,
e a infinitude dos seus sonhos,
e dormia protegido do frio
por um punhado de jornais usados.
Gostava de caminhar pela praia
a catar conchinhas coloridas
e pedrinhas mareadas pelo tempo.
Dizia ser um poeta das coisas
que ninguém mais queria,
das palavras que ninguém entendia,
dos sonhos que ninguém mais sonhava
e das alegrias que o mundo olvidara.
O nome dele era Antonio,
Antonio das roupas rasgadas,
das asas que lhe foram cortadas,
mas que ainda assim sorria,
pois por mais que possa parecer estranho
em seus sonhos ele voava
e falava de um Deus apaixonado
que vez em quando o visitava,
dava-lhe de comer e de beber
e ainda o perdoava dos pecados
que ele insistia em cometer.
No dia que Deus devolveu suas asas,
o entardecer veio em incontáveis tons de dourado,
coisa mais linda de se ver!
Eu conheci um anjo safado,
e toda a vez que eu penso nele,
escrevo muitos poemas
em versos que ninguém compreende,
com palavras que o mundo esqueceu!
belo!
ResponderExcluir