Suburbana saudade de uma vizinhança de vila em animada
conversa, com cadeiras nas calçadas, em ruas que existiam tranquilas; da mulher
fofoqueira na janela a tomar conta da vida das pessoas, principalmente daquela morena
gostosa que morava no quarenta e seis.
Suburbana saudade do tempo do caderninho com o pendura
do armazém e da quitanda; da molecada a jogar bola nas ruas, onde a
lateral do campo era o meio fio da calçada; do bar da Armando, onde o
pai lambia um traçado, comprava um maço de cigarros, um punhado de balas e ia
pra casa jantar.
Suburbana saudade da Ave Maria todos os dias na voz do
Julio Louzada, do Anjo, do Cavaleiro da Noite e do Jerônimo, o Herói do Sertão.
Saudades do Teatro de Mistérios, e do Inspetor Marques, do Incrível Fantástico
Extraordinário nas histórias do Almirante. Saudade das antigas Rádios Tupi,
Mayrink Veiga e Nacional.
Suburbana saudade da primeira namorada de mãos dadas
no portão, do primeiro beijo, de pegar no peitinho, tudo muito escondidinho! pois
se o pai dela pegasse dava uma merda danada! Saudade da minha e da sua
ingenuidade e de um tempo que podíamos andar despreocupados pelas ruas; de quando eu era pobre, muito pobre, mas não usava isso como desculpa para
matar ninguém. Saudade de pedir a benção e o pai e a mãe diziam: Deus te
abençoe filho, vá e volte com Deus!
Suburbana saudade da Rua Santo Cristo, da turma da
esquina, dos meus tempos de Liceu, de matar aula para namorar na praça, ou
então para andar de carrinho de rolimã na Boa Viagem. Saudade da poesia que
existia e eu nem via, pois o poema em nós só desperta quando aperta no peito a
nostalgia das coisas que não existem mais.
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