sexta-feira, 23 de maio de 2014

QUANDO A SOLIDÃO ME BATE A PORTA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   NALDOVELHO

   Acostumei-me a observar a dor
   numa taça de vinho tinto,
   na fumaça do meu cigarro,
   num amanhecer chuvoso de outono,
   num entardecer friorento de junho.
   Acostumei-me e já não me importo
   quando a solidão me bate a porta,
   eu prazerosamente a deixo entrar.

   Acostumei-me a observar o vento
   no passar lento das horas,
   na tempestade que me invade a tarde,
   na maresia que assola a orla,
   nos rochedos que sobrevivem ao tempo.
   Acostumei-me e já não me importo
   quando a nostalgia diz presente,
   eu amorosamente me deixo levar.

   Acostumei-me a observar a lágrima,
   o carinho, a ternura, a loucura,
   o desencontro e o desencanto,
   a samambaia exuberante da sala,
   as janelas permanentemente abertas,
   as portas que mantenho fechadas,
   as palavras que jorram descontroladas,
   poesia que eu sou capaz de escrever.

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