NALDOVELHO
Acostumei-me a observar a dor
numa taça de vinho tinto,
na fumaça do meu cigarro,
num amanhecer chuvoso de outono,
num entardecer friorento de junho.
Acostumei-me e já não me importo
quando a solidão me bate a porta,
eu prazerosamente a deixo entrar.
Acostumei-me a observar o vento
no passar lento das horas,
na tempestade que me invade a tarde,
na maresia que assola a orla,
nos rochedos que sobrevivem ao tempo.
Acostumei-me e já não me importo
quando a nostalgia diz presente,
eu amorosamente me deixo levar.
Acostumei-me a observar a lágrima,
o carinho, a ternura, a loucura,
o desencontro e o desencanto,
a samambaia exuberante da sala,
as janelas permanentemente abertas,
as portas que mantenho fechadas,
as palavras que jorram descontroladas,
poesia que eu sou capaz de escrever.
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