sábado, 24 de dezembro de 2011

HOMEM ESTRANHO AQUELE! (LUZ E SOMBRAS)


    NALDOVELHO

    E eu sabia daquele homem
    que gostava de ficar esquecido
    no silêncio do seu quarto.

    Homem estranho aquele!
    pois por mais que lhe dessem boca,
    não falava,
    que por mais que lhe pusessem olhos,
    não enxergava,
    que por mais que lhe emprestassem ouvidos,
    não escutava.
    Só quando queria...
    E aí ninguém entendia!

    Outro dia ao andar pela rua,
    percebi que ele me olhava,
    e de repente um longo assovio...
    E pássaros em sua janela pousavam.
    Homem estranho aquele!
    que parecia não ter boca,
    mas com os pássaros conversava.
    E o que será que ele falava?
    E dos pássaros, o que ele ouvia?

    E eu sabia daquele homem
    que gostava de ficar em silêncio
    nos esquecimentos do seu quarto.
    Homem estranho aquele!
    que nem morrer direito sabia,
    pois por mais que lhe dissessem quando,
    ele não acreditava,
    que por mais que lhe dissessem onde,
    ele nem ligava, e dizia:
    que só morria quando queria.
    E o que ninguém percebia,
    é que mil mortes ele morreria
    antes que compreendessem sua agonia.

    E eu sabia daquele homem
    que falava a língua dos pássaros
    e gostava de escrever poesia.
    Homem estranho aquele!

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