NALDOVELHO
Todos os dias, já faz tempo,
caminho pelas ruas
em busca de encontrar coisas
interessantes de se ter.
Algumas, guardo em meu quarto
para que em noites de solidão
possam me entreter;
outras, transformo em poemas.
Por isto trago sempre comigo
carícias que me sirvam de
abrigo,
quantidades enormes de luas
cheias,
cantigas ensinadas pelas
sereias,
madrugadas molhadas de
orvalho,
caminhos, trilhas, atalhos,
esquinas de ousadia e
desassossego,
lembranças de colos e aconchegos,
sementes enxertadas de sonhos,
melodias que eu mesmo
componho,
palavras inquietas e
estranhas,
uma nostalgia que assedia e
arranha,
águas revoltas de início de
outono,
uma leve impressão de
abandono,
manhãs frias e preguiçosas de
inverno,
a esperança que eu prezo e
conservo,
essência de alfazema que espalho pela casa,
uma vontade absurda que
fortalece minhas asas,
e uma quantidade não
inventariada de espinhos.
Hoje, já nem são tantos,
posto que os versos que eu
ouso
a maioria dissolveu.
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