quinta-feira, 29 de maio de 2014

O POEMA QUE EU NÃO ESCREVI - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

    NALDOVELHO

    Quem roubou de mim
    a palavra que andava
    engasgada em minha garganta?
    Quem roubou dos meus lábios
    o sorriso que eu não sorri,
    dos meus olhos a lágrima
    que eu não chorei,
    das minhas mãos o carinho
    que eu não ofertei?
    Quem roubou de mim
    a dor que eu não sofri,
    a saudade que eu não senti,
    a carta de amor que eu não enviei?
    Quem roubou a janela
    que estava aqui,
    a porta que estrategicamente
    eu destinei para fugir,
    a mentira que eu cansei de mentir?
    Quem roubou de mim o sonho
    que por anos e anos
    eu ingenuamente sonhei,
    a inquietude que eu alimentei,
    a possibilidade de descortinar
    os mistérios que eu ainda não revelei?
    Quem roubou o sol, a lua,
    a rua, a madrugada, as esquinas,
    a insônia, a loucura, a ternura?
    Quem roubou de mim o poema
    que eu não escrevi?

terça-feira, 27 de maio de 2014

E ELE NÃO SABIA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

    NALDOVELHO

    Todos os dias
    ele caminhava pelas ruas
    a procura de um remédio
    que curasse sua dor,
    mas se alguém perguntasse
    onde doía,
    ele nada respondia,
    pois simplesmente,
    não sabia!

    Viveu assim
    quase toda uma vida,
    quando de repente descobriu
    que não era dor o que ele sentia,
    era saudade de alguma coisa
    que ele sequer sabia se existia.

    Pobre daquele homem,
    que da sua saudade não sabia,
    só achava que doía!

A CADEIRA VAZIA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

    NALDOVELHO

    Em torno daquela mesa,
    cadeiras dispostas, vazias.
    Na sala, pessoas de todas as raças,
    inclusive as mestiças.
    O jantar servido
    e ninguém se habilitava,
    apesar da fome,
    parece que não entendiam.
    Na cabeceira da mesa
    uma corbelha de rosas vermelhas
    infestadas de espinhos.
    Do lado de cada prato um punhal fincado
    e uma taça cheia de sangue.

    Em torno daquela mesa
    cadeiras dispostas, vazias.
    Na sala, as pessoas tentavam se comunicar,
    cada uma em seu idioma
    e ninguém se entendia.
    Uma mais audaciosa resolveu sentar,
    serviu-se da comida,
    bebeu rios de sangue,
    arrotou seu bem estar.
    As outras levadas pela excitação,
    resolveram imitar.

    E beberam todo o Seu sangue
    e comeram toda a Sua carne,
    mas ainda assim não se entendiam,
    cada uma no seu idioma,
    cada uma com seu bem estar.

    Mas a cadeira posta à cabeceira da mesa
    permaneceu vazia,
    ninguém ousou se sentar!




    

segunda-feira, 26 de maio de 2014

FOI BEM ASSIM! - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   NALDOVELHO

   Foi bem assim:
   você tocou a campainha,
   eu abri a porta,
   você entrou, tirou os sapatos,
   caminhou pela sala,
   deliciosamente descalça,
   deu aquele sorriso abusado,
   foi em direção ao meu quarto
   e sem a menor cerimônia
   em minha cama deitou.
   Eu, surpreso, parado na porta,
   escorado no batente,
   sem saber direito o que fazer,
   sem ter pernas pra correr,
   sem ter boca pra falar,
   tonto, não conseguia sair do lugar.

   Foi bem assim:
   você perguntou se eu queria,
   nem esperou resposta,
   e antes que pudesse dizer não,
   me fatiou em postas,
   me saboreou aos pedaços,
   tudo com muita delicadeza,
   e eu de olhos abertos gemia,
   misto de dor e prazer.

   Foi bem assim:
   anoitecia, você rapidamente se levantou,
   foi até a janela, acendeu um cigarro,
   nesse tempo você ainda fumava,
   perguntou se eu queria,
   disse meia dúzia de palavras tristonhas,
   e eu percebi que você não mais sorria,
   e eu senti que era a hora do adeus.

   Foi bem assim!
   e eu fiquei aqui tentando juntar os pedaços,
   emendar o que foi fatiado,
   tenho a certeza de que estão faltando partes,
   coisas de fundamental importância
   que você por pura maldade devorou.  

   Foi bem assim!



domingo, 25 de maio de 2014

PELE - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

    NALDOVELHO

    Ando tendo alguma dificuldade
    em trocar de pele ultimamente.
    Pele de casa, pelo do trabalho,
    pele de andar pelas ruas,
    pele de lidar com as pessoas que amo,
    pele de lidar com os estranhos...
    Diversos tipos de pele!
    Umas, ásperas, cascudas;
    outras, finas e delicadas:
    suave convívio com a ternura.

    Ando tendo alguma dificuldade
    em trocar de pele ultimamente,
    coisas da idade!
    Acho que vou providenciar armaduras,
    fica mais fácil tirar e botar!



sexta-feira, 23 de maio de 2014

QUANDO A SOLIDÃO ME BATE A PORTA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   NALDOVELHO

   Acostumei-me a observar a dor
   numa taça de vinho tinto,
   na fumaça do meu cigarro,
   num amanhecer chuvoso de outono,
   num entardecer friorento de junho.
   Acostumei-me e já não me importo
   quando a solidão me bate a porta,
   eu prazerosamente a deixo entrar.

   Acostumei-me a observar o vento
   no passar lento das horas,
   na tempestade que me invade a tarde,
   na maresia que assola a orla,
   nos rochedos que sobrevivem ao tempo.
   Acostumei-me e já não me importo
   quando a nostalgia diz presente,
   eu amorosamente me deixo levar.

   Acostumei-me a observar a lágrima,
   o carinho, a ternura, a loucura,
   o desencontro e o desencanto,
   a samambaia exuberante da sala,
   as janelas permanentemente abertas,
   as portas que mantenho fechadas,
   as palavras que jorram descontroladas,
   poesia que eu sou capaz de escrever.

ROSA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


NALDOVELHO

Coisa mais estranha!
Luz do abajur há tempos queimada,
assim, acesa, do nada?
Janela do quarto
que eu teimo em deixar
permanentemente fechada,
hoje, abusadamente escancarada!
E este perfume?
Acho que estou ficando louco.

Na cozinha, pratos e talheres lavados
e nenhum resto de comida
que eu tenha esquecido
no forno ou em cima da mesa?
Na sala, móveis arrumados,
minha casa impecavelmente limpa,
cheiro de alecrim,
flores por todo o canto,
especialmente monsenhor branco.  
Estranho, muito estranho!

Na estante, meus livros e CDs
caprichosamente guardados,
cada um em seu lugar.
Uma samambaia chorona
pendurada no canto da sala...
Não consigo entender!

Pássaros atrevidos em minha janela;
parece primavera, mas é abril, outono!

Acho que é um sonho,
pois acabo de escutar sua voz...
Mas como?
Rosa! Você voltou, veio me buscar?


- Naldo! Permita-me este poema, quase um bilhete, pois você vai gostar de saber que a Rosa por aqui esteve, e eu não podia partir sem lhe contar. Garoto, obrigado por tudo! Onde quer que eu esteja nunca esquecerei o seu carinho e a sua bondade. Estou muito feliz, ela finalmente veio me buscar.

Um grande e forte abraço, do amigo Juvenal.

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Nem sempre uma passagem se mostra através de um espelho, muitas vezes o acesso nos é permitido por uma porta, um corredor, uma janela... Às vezes, até por uma folha de papel em branco, e nela, assim como por encanto, palavras vindas nem sei de onde, a nos revelar histórias, preciosas lições de amor e compreensão.

E assim penso ter acontecido, e ainda guardo o bilhete como prova, é fico aqui tentando retratar no papel aquela última manhã do velho amigo, e me arrisco a negar que toda a sua obseção e loucura pela perda de sua preciosa companheira o tenham levado a imaginar e até a construir todo aquele cenário, prefiro crer que realmente sua querida e saudosa mulher tenha vindo lhe buscar.

E esta é a história de Seu Juvenal e Dona Rosa, um casal que quando mais jovem eu tive o prazer de conhecer e com quem eu tive a honra de conviver. Eram muito felizes, tinham dois filhos, um deles, hoje, meu compadre, e a história de amor que vivenciaram foi dessas que só se vê num folhetim, construída que fora com muita luta, muito sofrimento e, principalmente, muita coragem, pois tiveram que romper com todos os laços para poderem ficar juntos. Eram amantíssimos, o carinho e a ternura eram constantes, a ponto de transformar a casa onde viviam num templo de paz e amor onde adorávamos ficar.

Só que um dia, assim, sem mais nem menos, aos 65 anos, Rosa morreu, num desses infartos fulminantes que sem o menor aviso lhe acometeu.

Daquele dia em diante, Seu Juvenal, homem forte e alegre, numa sombra triste e sem vida se transformou. Dava pena de ver! A casa que antes era um brilho, agora largada, móveis empoeirados, o jardim morto, e o velho, costumeiramente de muitas palavras, se transformara numa pessoa soturna e amargurada. Tomar banho, então, muitas vezes nem tomava! Entregou-se em vida, arrasado pela falta que Rosa lhe fazia.

Seus dois filhos, já casados, e seus netos, toda a semana, passavam por lá, limpavam tudo, até banho o obrigavam a tomar. Meu compadre sempre relutou em colocá-lo num asilo e o velho, já com 70 anos, não admitia a ideia de ter uma cuidadora ou algo assim, ou mesmo de ir morar com qualquer um deles, e assim nos dizia: um dia Rosa virá me buscar.

Todas as manhãs quando por lá passava em direção ao trabalho, eu levava pão fresco e um litro de leite. Janelas sempre fechadas e Seu Juvenal, nem café havia tomado. No meio daquela bagunça, ia eu para a cozinha, limpava o que podia e passava um café bem forte. Depois, sentávamos na sala, ainda que empoeirada, para um dedo de prosa que invariavelmente girava em torno do mesmo assunto: Rosa e a saudade que ele sentia.

Numa quarta-feira, estranhei as janelas abertas! Fui entrando na casa como sempre fazia, e confesso: com o coração apertado por conta de uma sensação estranha; parece que eu já sabia.

A cena foi dessas de arrepiar: a casa toda arrumada, a mesa posta, café recém-coado, pão, manteiga, queijo, um jarro de monsenhor branco sobre a mesa, até um pratinho de biscoitos de nata, tal qual Rosa fazia, e Seu Juvenal sentado em sua cadeira, de banho tomado, com um sorriso no rosto, olhos fechados, morto... E em suas mãos o precioso bilhete. Mais que depressa liguei para os filhos... Meu compadre a chorar dizia:

- Naldo, neste fim de semana eu não pude passar por aí, nem levar as netas para abraçá-lo!

Até hoje fico a pensar aqui com os meus botões: Rosa veio buscá-lo!


quarta-feira, 21 de maio de 2014

LETRA DE MÚSICA - PRISIONEIRO

    NALDOVELHO

    Fala meu Rio,
    revela o seu desassossego,
    chora a lágrima ardida
    que escorre da ferida
    que a bala deixou em seu corpo.

    Braços abertos, olhar tristonho,
    ouçam meu Cristo Redentor:
    estourem o cativeiro
    e libertem o prisioneiro.

    Quanto desgosto
    vejo em Seu rosto.
    Ouçam meu Cristo Redentor:
    tirem o dedo da ferida
    e libertem o padroeiro.

    Meu São Sebastião,
    Tá refém, tá prisioneiro.

terça-feira, 20 de maio de 2014

LETRA DE MÚSICA - NA MATA FECHADA

    NALDOVELHO

   Na mata fechada
   eu vi uma índia
   trazia oferendas
   pro seu Orixá

   Cabocla bonita
   te trouxe um presente
   colar só de penas
   pra te enfeitar

   A mata fechada
   tem lá seus segredos
   mas filho de Oxossi
   caminha sem medo.
   na linha de Umbanda
   sou flecha certeira
   não há como errar


LETRA DE MÚSICA - OMULÚ

   NALDOVELHO

   Atô-tô meu Pai!
   Venha nos valer,
   pelas trilhas que vamos seguir,
   nos protegei!

   Tua casa é luz no caminho,
   tens a cura das chagas, espinhos...

   Atô-tô! Meu pai Omulú!
   Venha nos valer!


LETRA DE MÚSICA - NANÃ BORUQUÊ

   NALDOVELHO

   Sua benção!
   Senhora das águas paradas,
   Nanã Boruquê.
   De joelhos teus filhos imploram,
   vem nos proteger.

   Saluba, Mãe Velha, sua benção,
   eu preciso levar,
   um pouco do barro sagrado
   pro Pai Oxalá.

   Saluba, Mãe Velha, sua bênção,
   vim lhe agradecer,
   a vida que hoje eu tenho,
   eu devo a você.

LETRA DE MÚSICA - CORAÇÃO ILUMINADO

    NALDOVELHO

   Trago uma cantiga diferente,
   luz da lua iluminou ondas do mar
   e a sereia apaixonada virou gente,
   tudo isto sob as bênçãos de Iemanjá.

   Ah Pai Oxalá!
   Iansã pede licença pra chegar
   e Mamãe Oxum, trouxe flores
   para enfeitar nosso gongá.

   Xangô, Oxossi, Ogum!
   Protegei e iluminai filhos de fé.

   Trago uma cantiga de presente,
   coração iluminado e muito Axé!.

LETRA DE MÚSICA - PRETA VELHA

    NALDOVELHO

    Preta velha sabe das rezas, sinhá,
    desmancha qualquer feitiço.
    Preta velha sabe das rezas, sinhá,
    desmancha qualquer feitiço.
    Se o menino tá enjoado, sinhá,
    logo-logo ela acaba com isto.
    Se o menino tá enjoado, sinhá,
    logo-logo ela acaba com isto.

    Olha as ervas da preta velha, sinhá,
    colhidas lá no roçado.
    Olha as ervas da preta velha, sinhá,
    colhidas lá no roçado.
    Se ela tá de ventre virado, sinhá,
    a velha tem a cura pra isto.
    Se ela tá de ventre virado, sinhá,
    a velha tem a cura pra isto.

    Preta velha veio de Aruanda, sinhá,
    na luz do Senhor Jesus Cristo.
    Preta velha veio de Aruanda, sinhá,
    na luz do Senhor Jesus Cristo.
    ela sabe das ervas, das rezas, sinhá,
    e desmancha qualquer feitiço.

domingo, 18 de maio de 2014

SUBURBANA SAUDADE - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS


NALDOVELHO

Suburbana saudade de uma vizinhança de vila em animada conversa, com cadeiras nas calçadas, em ruas que existiam tranquilas; da mulher fofoqueira na janela a tomar conta da vida das pessoas, principalmente daquela morena gostosa que morava no quarenta e seis.

Suburbana saudade do tempo do caderninho com o pendura do armazém e da quitanda; da molecada a jogar bola nas ruas, onde a lateral do campo era o meio fio da calçada; do bar da Armando, onde o pai lambia um traçado, comprava um maço de cigarros, um punhado de balas e ia pra casa jantar.

Suburbana saudade da Ave Maria todos os dias na voz do Julio Louzada, do Anjo, do Cavaleiro da Noite e do Jerônimo, o Herói do Sertão. Saudades do Teatro de Mistérios, e do Inspetor Marques, do Incrível Fantástico Extraordinário nas histórias do Almirante. Saudade das antigas Rádios Tupi, Mayrink Veiga e Nacional.

Suburbana saudade da primeira namorada de mãos dadas no portão, do primeiro beijo, de pegar no peitinho, tudo muito escondidinho! pois se o pai dela pegasse dava uma merda danada! Saudade da minha e da sua ingenuidade e de um tempo que podíamos andar despreocupados pelas ruas; de quando eu era pobre, muito pobre, mas não usava isso como desculpa para matar ninguém. Saudade de pedir a benção e o pai e a mãe diziam: Deus te abençoe filho, vá e volte com Deus! 

Suburbana saudade da Rua Santo Cristo, da turma da esquina, dos meus tempos de Liceu, de matar aula para namorar na praça, ou então para andar de carrinho de rolimã na Boa Viagem. Saudade da poesia que existia e eu nem via, pois o poema em nós só desperta quando aperta no peito a nostalgia das coisas que não existem mais.



  

sexta-feira, 16 de maio de 2014

CAIXINHA DE ENCANTAMENTOS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

    NALDOVELHO

    No fundo do meu armário eu guardo
    uma caixinha de encantamentos,
    nela eu coloco os mistérios
    que ainda não consegui decifrar.
    Todos os dias antes de dormir
    eu revejo e repenso o meu dia,
    não raro descubro umas coisas
    que eu preciso guardar por lá,
    às vezes descubro outras
    que já não preciso guardar.
    Quando eu morrer que me enterrem
    com a minha caixinha querida,
    pois o lado de lá tem respostas
    que eu vou querer encontrar,
    e provavelmente mais mistérios
    que eu vou precisar guardar.


ANTONIO DAS ROUPAS RASGADAS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

    NALDOVELHO

    Eu conheci um anjo safado
    que adorava perambular pelas ruas,
    sentar no meio fio das calçadas,
    só para olhar as pernas das meninas
    e ainda arriscava um suspiro meloso
    na esperança de que ficassem apaixonadas,
    pois era louco para cometer um pecado
    e dizia: coisa gostosa as coxas roliças
    de uma bela mulher!

    Ele adorava lamber uma pinga,
    gostava também de café forte e melado,
    e nos finais de tarde se escondia
    num beco sombrio e tristonho
    para fumar todas as bingas
    colhidas em suas andanças,
    e afirmava ser seu baseado,
    e ali refletia sobre os seus desenganos,
    e a infinitude dos seus sonhos,
    e dormia protegido do frio
    por um punhado de jornais usados.

    Gostava de caminhar pela praia
    a catar conchinhas coloridas
    e pedrinhas mareadas pelo tempo.
    Dizia ser um poeta das coisas
    que ninguém mais queria,
    das palavras que ninguém entendia,
    dos sonhos que ninguém mais sonhava
    e das alegrias que o mundo olvidara.

    O nome dele era Antonio,
    Antonio das roupas rasgadas,
    das asas que lhe foram cortadas,
    mas que ainda assim sorria,
    pois por mais que possa parecer estranho
    em seus sonhos ele voava
    e falava de um Deus apaixonado
    que vez em quando o visitava,
    dava-lhe de comer e de beber
    e ainda o perdoava dos pecados
    que ele insistia em cometer.

    No dia que Deus devolveu suas asas,
    o entardecer veio em incontáveis tons de dourado,
    coisa mais linda de se ver!

    Eu conheci um anjo safado,
    e toda a vez que eu penso nele,
    escrevo muitos poemas
    em versos que ninguém compreende,
    com palavras que o mundo esqueceu!