domingo, 27 de novembro de 2011

EMARANHADO DE ESCOLHAS (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Trago entranhado na alma
   um emaranhado de escolhas,
   espinhos diversos (de versos)...

   Toda a vez que toco num deles,
   brotam palavras que escoam,
   mostrando a esperança que eu tenho
   de um dia a dor passar.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

PALAVRAS DE ANJO EM PRECE (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Todos os dias,
   manhã bem cedo,
   um burburinho acontece...

   No jardim da minha casa,
   passarinhada reunida em prece
   pede a Deus pelo mundo.

   Outro dia um bem-te-vi se achegou,
   queria aprender a orar.

   Agora voa, passarinho, voa!
   Vai e mostra ao seu bando
   como fazem os daqui,
   espalha pelo mundo a magia,
   palavras de anjo, poesia...

   Que coisa mais linda os que sabem
   palavras de anjo em prece!

   Todos os dias manhã cedo,
   até nos dias de chuva,
   pois fiz um telheiro, um abrigo
   para que possamos juntos orar.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

POR QUE POESIA? (MANIFESTO)


Naldo, por que poesia?

Porque a poesia humaniza a nossa trajetória, aumentando nossa percepção, depurando nossa sensibilidade e desenvolvendo a nossa capacidade de reflexão. E são estas coisas que nos possibilitam vivenciar infinitos matizes para uma mesma cor e nos permite saborear estas nuances. 

A poesia abre para o ser humano a existência em toda a sua amplitude e o faz capaz de viajar através do imaginário das coisas que ainda não existem, fazendo com que seja possível trazê-las a realidade. A poesia transforma as pessoas, levando-as a evolução.

E é através da poesia que aprendemos a perceber o mundo pela ótica do coletivo, fazendo com que os nossos pensamentos consigam viajar livres do aprisionamento dos nossos limitados umbigos, fazendo-os promíscuos de muitos umbigos, tornando-nos mais receptivos ao diferente: brancos, negros, amarelos, índios, mulatos, mestiços de todas as espécies; homens e mulheres de qualquer opção sexual que possa existir, e não importa o credo, ou a convicção política; gordos, magros, baixos, altos, qualquer que seja a forma que o ser humano possa se apresentar, na realidade: passageiros de um mesmo barco, com defeitos e qualidades, com virtudes e fraquezas, seres semelhantes em suas infinitas possibilidades.

Se a poesia no mundo moderno fosse mais fomentada, e o meu sonho é que tal coisa aconteça a partir dos primeiros passos das pessoas, passando por todos os níveis de educação, sejam eles formais ou não; o nosso convívio seria fundamentado na compreensão e por conseqüência, bem mais fraterno, o que certamente diminuiria sensivelmente a discriminação, o constrangimento imposto ao diferente e a insensibilidade à injustiça social que hoje existe.

Por isto a poesia! Porque a cada poema eu me reinvento, eu me aprimoro, eu me transformo numa pessoa melhor, aumentando a minha capacidade de compreender.    

domingo, 20 de novembro de 2011

COISAS QUE SOBRARAM DO INCÊNDIO (POESIA FALADA)

LUA DESGOVERNADA (POESIA FALADA)

CONTRIÇÃO (POESIA FALADA)

COISAS ESQUECIDAS POR SEUS DONOS (POESIA FALADA)

CURRICULUM VITAE (POESIA FALADA)

POR QUE POESIA? (MANIFESTO FALADO)

RAÍZES (PROSA POÉTICA)


NALDOVELHO

No espelho, a cor da minha pele. Lembro de Vovó Teresa, preta velha quimbandeira, sabedora de ervas e quebrantos, feiticeira que, numa reza, já faz tempo, desencravou-me das entranhas de Dona Helena assustada, que chorava feito chuva pela dor que sentia com o filho que teimava em não brotar. Naquele dia, por conta da velha parteira, promessa de entrega às águas do mar. Rosas brancas que na sétima onda que viesse serviriam para abençoar. Salve, Iemanjá! que entregou este filho poeta aos cuidados da mais formosa princesa, que ensinou-lhe que o amor é o único caminho capaz de nos libertar. Aie-ê Mamãe Oxum!     

Olho, mais detidamente, e percebo cabelos lisos, hoje tão embranquecidos, e lembro do Velho Lucas que em sua última passagem entre nós, morreu de dor de chicote num tronco impregnado de sangue, a mando de uma sinhazinha, que ofendida pela recusa do negro em acoitar-lhe os desejos, acusou-o de ter tido a audácia de abusar de uma outra negra criada, que ao mentir e confirmar-lhe o intento, disse-o capaz de feitiços que ninguém seria capaz de imaginar. Salve, Xangô!

Vou até a janela e percebo a chuva, o cheiro de terra molhada e erva espremida, essência de alfazema curtida; água de cheiro a banhar o corpo da cabocla, mestiça de negro mateiro e índia formosa... O nome dela: Iracema.  Princesa que banhada nas águas de um rio, ungiu de dor as correntes por um amor que pariu mil e tantos guerreiros, caboclos que até hoje campeiam pela glória de Iansã, Oxossi e Ogum.

Fecho os olhos, adormeço e um velho peregrino me abençoa. Seu corpo coberto de chagas, seu olhar a transmitir pureza, filho de Nanã que Iemanjá criou. Atô-tô! Sua benção, Pai Omulú! Que os cães que vigiam os caminhos, protejam as passagens que eu temo e que um dia vou ter que trilhar.

Raízes negras, som de atabaques, cantigas, pontos firmados em escuras senzalas, muitas demandas e ainda hoje nos olhos as marcas doídas do banzo, coisa difícil de explicar.

Preto Velho, sua benção! Fazei do inimigo um amigo e protegei-nos da tocaia dos que não se reconhecem como iguais. Diz da alma marcada por correntes, das costas doídas pelos açoites desta vida, e de outras cicatrizes que persistem, e que vez por outra latejam doentes. Diz que apesar dos caminhos e de sermos filhos paridos de diferentes sementes, assim o fomos sob a inspiração do Pai Oxalá.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

OS TRILHOS DAQUELE TREM (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Os trilhos daquele trem
   por dentro da minha casa,
   trazem chegadas de sonhos
   que de tão preciosos revelam
   que a morte que eu tanto temo
   vive a espera do meu tempo
   numa longínqua e fria estação.

   Os trilhos por dentro da minha casa,
   descortinam verdades, certezas,
   percorrem planícies sedentas,
   atravessam montanhas de esperas,
   lembranças trazidas de um tempo
   carregado de muitos segredos
   alinhavados pela dor e pela paixão.

   Os trilhos que existem em minha casa,
   são trilhas de delicadeza,
   e se projetam só eu sei bem pra onde,
   a revelar que o futuro esconde
   um emaranhado de muitos enredos,
   a cada dia uma nova história,
   coisas próprias do meu coração. 

domingo, 13 de novembro de 2011

COMO PODERIA EU VIVER? (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Esta trilha descoberta
   que vai dar bem pertinho
   dos seus braços,
   esta porta armadilha
   que vai dar dentro
   do seu quarto,
   esta fonte aguardente
   que me embriaga e só dá prazer...
   E este emaranhado de teias?
   E eu aqui sem saber o que fazer.

   Esta lágrima assanhada
   que escorre do meu olho esquerdo,
   esta vontade de gritar
   quando estou longe de você,
   este roçar de dedos
   nas bordas do meu desassossego,
   esta travessia, esta poesia,
   esta tristeza absurda
   por ter de ir embora,
   esta saudade, esta nostalgia...

   Como caminhar pelas ruas
   sem saber se eu vou poder
   voltar para você?

   Como poderia eu viver?

sábado, 12 de novembro de 2011

MINHAS IMPERFEIÇÕES (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Já bebi caminhos
   de puro desassossego,
   e pelas ruas embriagado
   tropecei em quimeras.

   Já dormi abraçado
   aos meus escombros,
   e como louco fiz pouco
   dos meus próprios tombos.

   Já cheirei estradas
   de dor e desespero,
   e triturei minhas metades
   até vencer meus medos.

   Já fumei dias e noites
   de muita solidão,
   e passageiro em meio à neblina
   naufraguei na imensidão.

   Já me alimentei das palavras
   inquietude e incompreensão,
   e hoje, prisioneiro dos meus sonhos,
   virei o arauto da minha imperfeição.   

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

PASSAGEIRO DE MIM MESMO (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   É como se um grito escapulisse da garganta,
   e as lágrimas transbordassem abusadas.

   É como se o dia explodisse em meu quarto
   e a noite, coitada, fosse embora assustada.

   É como se as dobradiças estivessem emperradas
   e a janela do quarto acordasse escancarada.

   É como se pássaros invadissem minha casa
   e cantassem melodias de anjo.

   É como se o tempo me desse mais tempo
   e eu aqui, passageiro de mim mesmo,
   pudesse, então, recomeçar.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ESTRELA DESAFORADA (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   No céu eu percebo num repente,
   pequena e desaforada estrela...

   Ela sinaliza insistentemente, 
   mais parecendo querer transmitir ao poeta 
   um pouco da sua rebeldia.

   Oh! Estrela que eu percebo,
   que segredos me revelarias?
   Que caminhos gostarias de me mostrar?

   Oh! Minha desaforada e pequena estrela,
   quanta inquietude eu colho,
   por não conseguir te decifrar.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

ESFINGE (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Há um jeito impreciso
   na forma de você falar comigo,
   um quê de quero, não quero,
   e aí então você me diz:
   se você vier eu espero,
   mas só posso lhe garantir uma dança.

   Há um sorriso enigmático,
   toda a vez que eu lhe dedico um poema,
   um quê de já eu conheço esta história,
   ranhuras gravadas em sua memória,
   tantas que mais parece uma esfinge.

   Há um quê de sedução
   naquilo que eu não consigo compreender,
   no olhar que expõe rachaduras,
   no sorriso que me desafia a coragem,
   nas sombras que devoram meu coração.

   Há um quê de veneno
   na paixão que eu não consigo conter,
   nos seus poros, na sua pele,
   nos seus lábios e no enigma
   que eu vejo em você.

domingo, 6 de novembro de 2011

SEMPRE VALERÁ À PENA (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Há sempre uma parede precisando ser derrubada,
   uma porta pronta para ser aberta,
   uma janela pedindo para ser escancarada,
   um louco querendo ser libertado,
   um demônio a ser exorcizado,
   um novo tropeço em algum ponto da estrada.

   Há sempre uma lágrima precisando ser chorada,
   uma saudade espetando nossas entranhas,
   um velho amor pedindo para ser lembrado,
   uma ferida querendo ser tratada,
   uma palavra pronta para ser ofertada
   num poema que implora para ser escrito.

   Há sempre um fio precisando ser desembaraçado,
   um segredo querendo ser revelado,
   um mistério pronto para ser desvendado,
   um enredo a ser esmiuçado,
   uma trama a ser desfeita,
   uma verdade a ser compreendida.

   Há sempre uma chama querendo ser acesa,
   e uma outra precisando ser apagada,
   há sempre a possibilidade de um novo amor,
   e com ele o risco de se sofrer,
   há sempre uma esperança florescendo em meu quarto
   pois sempre valerá à pena amanhecer.

sábado, 5 de novembro de 2011

ANJOS E DEMÔNIOS (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Anjos e demônios
   discutem asperamente
   em volta daquela mesa.

   Os primeiros afirmam
   que cada ato de amor
   é prova inquestionável
   da existência de Deus.

   Os demônios, 
   também acreditam nisto,
   mas fazem questão
   de mostrar o contrário.

   Estranho!
   Eu conheço gente
   que não acredita
   nestas coisas,
   mas ainda assim
   faz de sua vida
   um hino de louvor
   a Criação. 

NESTE CAMINHO ESBOÇO (LUZ E SOMBRAS)


   NALDOVELHO

   Neste caminho esboço
   ensaio meus passos,
   me arrisco em atalhos,
   escorrego e caio,
   colho ervas ardidas
   pras minhas muitas feridas
   e cometo a loucura
   de continuar aos tropeços.

   Neste caminho esboço
   construo muitos abrigos,
   adormeço e sonho,
   me apaixono e pronto,
   escrevo belos poemas,
   componho lindas toadas
   e colho o encanto
   de amanhecer em seus braços.

   Neste caminho esboço
   às vezes durmo ao relento
   e colho poeira de estrelas
   para fazer poderoso remédio
   que cure a angústia daqueles
   que perderam seu coração 
   em alguma curva da estrada
   e por lá nunca mais puderam voltar.

   Neste caminho esboço
   descubro o segredo das pedras
   e dos ciclo das águas
   os mistérios que há.
   Aprendo palavras de anjo
   e com os pássaros
   que amanhecem em festa
   perco o medo de amar.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O TEU RETRATO (LUZ E SOMBRAS)


NALDOVELHO

O relógio, as horas,
as cortinas fechadas,
amanhece lá fora,
ainda é noite aqui dentro.
  
Vivo preso aos meus sonhos,
mas o menino ainda chora
e sente saudade
   
E a velha senhora
borda meu nome
nas fronhas do tempo.
   
Da mesinha de cabeceira
o teu retrato 
arregala os olhos e sorri.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

MESA FARTA (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   É preciso impedir que o limo
   conspurque a beleza destas pedras,
   que a neblina embace
   a luz necessária ao ambiente,
   e que o rio na enchente
   destrua as pontes que ligam
   as coisas do coração
   à necessidade de reflexão.

   É preciso manter acesa a chama,
   espalhar água de cheiro pela casa,
   proteger do vento orquídeas e avencas,
   tratar com cuidado lírios e begônias,
   e ainda assim, escancarar janelas e portas,
   e ao permitir que pássaros invadam a sala
   poder cultivar um tempo de suavidades,
   pois será sempre uma bênção tê-los por aqui!

   É preciso louvar o dia a cada dia,
   saber administrar nossos atos de ousadia,
   ter a vontade dos loucos
   e a sanidade de poucos,
   ter olhos de descortinar lonjuras
   e isto sem perder a necessária ternura,
   para olhar nos olhos do inimigo
   e transformá-lo num irmão,

   É preciso aprender mais sobre os caminhos,
   impedir que as nossas raízes apodreçam,
   que as sombras que atormentam nos emudeçam;
   é preciso fazer um pacto de preservação!
   pois por mais que te pareça estranho
   há um muito de delicadeza a banhar nossos corações.
   
   É preciso finalmente ter sempre em nossas vidas
   uma mesa farta de amor, paz e compreensão.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

UMA TELA NUM QUADRO (ARQUIVO)


   NALDOVELHO

   Imagens suaves ao traçar um esboço.
   Na tela o teu sorriso 
   vai tomando forma e gosto,
   recriar teu rosto em todos os contornos...
   É o meu jeito de dizer o quanto
   eu te amo, te quero e preciso.

   Diferentes matizes 
   e ainda um pálido esforço.
   Retratar-te é o meu vício, 
   não consigo parar!

   Olho para o espelho 
   e vejo o meu rosto,
   já não tenho vinte anos, 
   quantas marcas, enganos...

   Vou até a janela 
   e lá fora é novembro.
   Imagino-te tão bela, 
   miragem, oásis,
   e ao acreditar em magia,
   materializo-te em meu quarto.

   Na tela eu já percebo 
   um carinho absurdo,
   e uma saudade ardida 
   como pano de fundo.

   O cigarro entre os dedos, 
   só falta um conhaque.
   Conhaque eu não posso, 
   fumar também não...
   Só não consigo parar!

   Talvez se deste quadro 
   tu saltasses da tela
   e ao enlaçar-me em teus braços 
   me desse abrigo,
   fazendo-me querido 
   e de fundamental importância,
   quem sabe então o tempo 
   arrependido pelos estragos
   parasse de passar 
   e deixasse voltar de presente
   o nosso passado...

   Tua imagem na tela 
   já se faz quase pronta,
   alguns poucos detalhes, 
   delicados momentos.

   Pouca coisa nos falta 
   para que concretizado este quadro
   possamos ficar nos olhando: 
   eu aqui, só, neste quarto,
   preso as minhas nostálgicas lembranças
   e a esperança de reviver nosso amor.