RONALDO BUONINCONTRO
Uma cidade em ruínas
grita dentro de mim,
com suas ruas, travessas e praças
tomadas pelo entulho,
restos do meu passado,
sentimentos deixados de lado,
emoções largadas descuidadas
na pressa de se chegar a lugar algum.
Uma casa avarandada,
quintal antes ajardinado,
agora tomado de eras e baobás,
e lá dentro muitos fantasmas,
alguns já carcomidos pelo tempo,
outros ainda assustam,
gritam indecências e heresias,
na esperança de me enlouquecer.
Num dos quartos uma cama desfeita,
uma tapeçaria inacabada,
um trenzinho elétrico quebrado,
uma escrivaninha empoeirada,
numa das gavetas um monte de cartas,
alguns poemas, rascunhos,
noutra um álbum de retratos,
coisas deixadas para trás.
Aqui fora, não reconheço a minha cidade,
e as pessoas numa língua estranha
tentam a todo custo se devorar,
gritam impropérios, ameaças,
destroem símbolos sagrados,
debocham dos puros de coração,
e eu desesperado me pergunto
o quanto disso tudo eu fui capaz de causar.
SINFONIA DO CAOS
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