RÉQUIEM PARA UM POETA MORTO
RONALDO BUONINCONTRO
Faz algum tempo eu vinha premeditando isto e há dias atrás finalmente
consegui meu intento: foram três tiros certeiros no peito e a chama que me
aquecia e consumia estava morta. Se bem que ela ainda estrebuchou alguns
poemas, poucos, mas sem nenhum talento; era ela ou eu!
Mais que depressa envolvi seu corpo em bandagens de linho, especialmente
embebidas em resinas, para que mumificado pudesse ser colocado naquela que eu
chamo de caixinha de encantamentos, e lá, bem no fundinho do meu quintal, junto
a uma roseira branca e espinhenta, o enterrei; lacrando seu túmulo com pedras
redondinhas colhidas nas margens de um rio chamado solidão. Fiz-lhe, então, uma
oração emocionada e até chorei... Àquela altura a pobre alma já devia estar
acertando suas contas com o Criador.
Agora estou livre para ser o que realmente sou. Não mais
versos de amor e dor, metáforas, rimas, imagens, sentimentos tolos, bobagens, lágrimas
sanguinolentas derramadas, estiagens, noites inteiras de insônia, solidão, nostalgia,
não mais a pretensão de parir palavras de ternura, para depois abraçá-las em
minha clausura, não mais a magia de asas que voem por dentro!
O mundo não precisa de poesia, os artistas e intelectuais de
hoje, também não! São todos donos absolutistas de suas verdades e vivem de
semear incompreensão.
O mais interessante e que depois de alguns dias, do meio
daquelas pedrinhas redondinhas começou a jorrar uma pequenina fonte
cristalina... Não beba desta água, eu pensei! Vai que você fraqueja e o poeta
enterrado lá no fundinho do seu quintal resolve renascer.
Agora o que resta é sair pelas ruas, com mãos que possam
distribuir bondades e braços de acarinhar os puros de coração!
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