NALDOVELHO
E assim sem mais nem menos
a vida levantou o véu que cobria meu rosto,
e extraiu dos meus lábios
um sorriso doído de solidão e desgosto;
derramou sobre o meu corpo
a insanidade de uns poucos
e com palavras amargas entupiu minha boca.
E não se importou com a minha dor,
tão pouco com a bagagem que eu trazia,
muito menos com o amor que eu fora capaz.
E o que restou foi a lembrança
do que os seus gestos escondiam,
e a vontade que nela existia
de devorar meus sonhos,
e assim ela os devorou.
Desligou a televisão, abriu portas e janelas,
viu florescer pelas ruas o sorriso das crianças
e os sonhos dos puros de coração;
mas uma vez mais não se importou;
acostumada a manipular a realidade,
fez da sua verdade um manto de incompreensão.
Foi então que eu percebi
que ela havia vendado os meus olhos
na esperança de me fazer como tantos,
condenando-me aos descaminhos
dos que perambulam pela escuridão.
Soçobrei, no entanto, pelos cantos,
abraçado aos meus poemas:
asas que eu tenho por dentro
na busca da minha imensidão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário