domingo, 1 de outubro de 2017

A MORTE

    NALDOVELHO

    Longe de mim
    a morte desfaz os nós,
    desembaraça os fios,
    constrói novos enredos
    e diz que assim lhe ensinou o Pai.

    E ela é um anjo sofrido,
    carrega em sua montaria
    alforjes cheios de culpas
    e o rosto crispado
    pelos seus próprios ais.

    Longe de mim
    a morte é guardiã do depois,
    descortina caminhos de ir,
    conduz legiões de esquecidos,
    todos em busca da paz.

    A morte tem as asas
    encharcadas de lágrimas,
    dos amigos, dos inimigos,
    gente pobre, gente rica;
    neste caminho são todos iguais.

    Perto de mim
    a morte devora o meu tempo,
    em silencio tem dó da minha solidão,
    mas ri da pretensão do poeta
    de querer viver sempre um pouco mais. 

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