segunda-feira, 23 de julho de 2018

ALGO SE QUEBROU


    NALDOVELHO
  
    Algo se quebrou,
    mas pelo chão do quarto
    eu não encontro
    estilhaços do que sobrou.

    Na estante desarrumada
    um relógio marca o tempo
    que me restou,
    e num retrato empoeirado,
    ruínas de uma época
    onde achávamos
    que tudo sabíamos,
    que tudo podíamos.
 
    Em cima da mesa
    um amontoado de livros,
    papeis em desordem,
    rascunhos de poemas,
    e numa vitrola antiga
    Billie Holiday causa um estrago.

    Ainda sinto a falta de um cigarro
    e de uma boa dose de conhaque,
    mas ao abrir as janelas da casa
    eu descubro que de dentro de mim
    você partiu e nem seu deu ao trabalho
    de dizer adeus.

   Algo se quebrou,
   mas em  mim
   eu não mais encontro
   estilhaços do que restou.


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