NALDOVELHO
Ando com os olhos marejados
por conta dos meus muitos estragos,
colecionando retratos,
recortes, bobagens...
Já não dou conta dos descaminhos,
das noites passadas sozinho,
das madrugadas friorentas,
coração já não aguenta,
qualquer dia desses implode,
nostalgia insistente; vê se pode,
você foi embora, foi viver longe daqui
e na janela um bem-te-vi
me espiona assustado e grita:
- menino levanta daí!
Ando com a boca ressequida
pelos desencontros desta vida...
Saudade do café da Vó Miudinha,
fervido junto com a água,
só pra ficar mais encorpado,
saudade da primeira namoradinha,
seios pequenos e arrebitados,
e seus lábios umedecendo meus lábios,
suas pernas assanhadas e entrelaçadas
às minhas pobres pernas embriagadas,
janela aberta, lua assustada...
Se Vó Miudinha vê uma cena destas
ia ficar toda ruborizada.
- Este meu neto sabe de coisas!
Ando com o coração afrontado
por palavras embevecidas,
pois cada vez que escrevo um verso
mais marejados os olhos ficam,
mania de chorar por qualquer bobagem,
mania de acreditar que um poema
possa exorcizar o meu passado,
possa abrir portas e janelas
e trazer pra dentro do quarto
um bando de bem-te-vis:
- menino levanta daí!
Na cozinha um café passado sem pressa,
pareço escutar Vó Miudinha:
- meu neto já é hora de prosseguir!
Amei!
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