NALDOVELHO
Se eu enterrasse meu coração no
fundo do quintal,
não mais teria que me preocupar
com a saudade,
tão pouco saberia das perdas e
desencantos,
escrever poemas de amor, não mais
saberia...
Caminharia, então, por recantos da
minha cidade
sem me preocupar com as
armadilhas da paixão,
não teria mais insônia, nem a
danada da nostalgia,
coisas próprias dos que são
reféns da solidão.
Se eu enterrasse meu coração no
fundo do quintal,
lágrimas no canto dos olhos não
mais incomodariam,
nem cicatrizes que doem na
mudança de tempo,
medo de madrugadas cinzentas,
também não teria,
dormiria esquecido na aridez de
um quarto escuro
sem me preocupar com o que existe
atrás do muro,
pois descortinar novas realidades
eu não saberia,
e finalmente curaria a maldita da
inquietude.
E no lugar em que meu coração
estivesse enterrado,
lírios, jasmins e crisântemos
floresceriam,
uma fonte de água cristalina surgiria
e ao lado do pequeno túmulo um
epitáfio:
deixem em paz o meu pobre coração!
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