quarta-feira, 20 de junho de 2018

DEIXEM EM PAZ O MEU POBRE CORAÇÃO


    NALDOVELHO

    Se eu enterrasse meu coração no fundo do quintal,
    não mais teria que me preocupar com a saudade,
    tão pouco saberia das perdas e desencantos,
    escrever poemas de amor, não mais saberia...
    Caminharia, então, por recantos da minha cidade
    sem me preocupar com as armadilhas da paixão,
    não teria mais insônia, nem a danada da nostalgia,
    coisas próprias dos que são reféns da solidão.

    Se eu enterrasse meu coração no fundo do quintal,
    lágrimas no canto dos olhos não mais incomodariam,
    nem cicatrizes que doem na mudança de tempo, 
    medo de madrugadas cinzentas, também não teria,
    dormiria esquecido na aridez de um quarto escuro
    sem me preocupar com o que existe atrás do muro,
    pois descortinar novas realidades eu não saberia,
    e finalmente curaria a maldita da inquietude.

    E no lugar em que meu coração estivesse enterrado,
    lírios, jasmins e crisântemos floresceriam,
    uma fonte de água cristalina surgiria
    e ao lado do pequeno túmulo um epitáfio:

    deixem em paz o meu pobre coração!    










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