segunda-feira, 18 de junho de 2018

CAIXINHA DE MÚSICAS



    NALDOVELHO

    Eu tenho uma caixinha de músicas
    e lá eu guardo as mais belas canções,
    e são tantas!
    Vez em quando pego uma
    e invento enredos, poemas,
    revestidos de trilhas sonoras
    que alimentam o meu ser.

    Existem músicas que eu percebo
    encharcadas de orvalho,
    são elas que preparam o amanhecer,
    harmonias próprias da madrugada,
    e eu já amanheci tantas vezes
    que até virei um especialista
    na arte de sobreviver. 

    Outras, penso que sejam outonais,
    e quando isso acontece
    eu fecho os olhos e me vejo
    caminhando pelas ruas da cidade
    de braços dados com um tempo de delicadeza
    apinhado de folhas caídas das árvores,
    brisa macia, tons de dourado, renovação.

    Gosto também daquelas
    que cheiram a entardecer...
    Café servido sem pressa,
    as rolinhas passeando pela sala,
    janelas propositadamente abertas,
    e a lua que chega a me dizer saudade:
    eu vim aqui só para te ver.

    Mas existem também
    as ardidas de desencontros,
    de insônia que brota insistente
    das paredes do meu quarto,
    Lady Day sussurrando em meus ouvidos,
    uma garrafa de uísque já pela metade
    e eu me percebo abraçado a um blues.

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