NALDOVELHO
Eu me lembro daquele menino
que gostava de colecionar sonhos,
tinha um olhar meio assim sem juízo,
andava distraído pelas ruas
e não raro tropeçava nas palavras que trazia,
mas que por timidez quase não dizia.
Até por isto outras manias ele desenvolveu:
gostava de observar tudo o que ao seu redor existia,
até aquilo que ele não via,
mas que nem sei por conta de quê,
ele milagrosamente percebia;
não raro conversava com as paredes de sua casa
e com todas as coisas que por lá existiam;
dava nomes às portas e janelas
e dizia que através delas ele podia perceber
a noite e o dia, a tristeza e a alegria.
O desamor não, pois essa palavra ele não sabia.
Acho até que por causa disso
ele resolveu aprender a fazer poesia,
palavras, sonhos, conteúdos e significados,
tudo bem misturado numa folha de papel em branco
onde o risco dos tropeços ele não corria.
Faz bem pouco tempo eu o encontrei,
já não um menino, pois muito se passou.
Até hoje ele cultiva suas manias:
continua colecionando sonhos,
dando vida e conversando com as coisas,
e adora escrever poemas, parece até que são bons...
Ele diz que é para espantar a solidão.
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