segunda-feira, 11 de setembro de 2017

PARA ESPANTAR A SOLIDÃO

    NALDOVELHO


    Eu me lembro daquele menino
    que gostava de colecionar sonhos,
    tinha um olhar meio assim sem juízo,
    andava distraído pelas ruas
    e não raro tropeçava nas palavras que trazia,
    mas que por timidez quase não dizia.

    Até por isto outras manias ele desenvolveu:
    gostava de observar tudo o que ao seu redor existia,
    até aquilo que ele não via,
    mas que nem sei por conta de quê,
    ele milagrosamente percebia;
    não raro conversava com as paredes de sua casa
    e com todas as coisas que por lá existiam;
    dava nomes às portas e janelas
    e dizia que através delas ele podia perceber
    a noite e o dia, a tristeza e a alegria.
    O desamor não, pois essa palavra ele não sabia.

    Acho até que por causa disso
    ele resolveu aprender a fazer poesia,
    palavras, sonhos, conteúdos e significados,
    tudo bem misturado numa folha de papel em branco
    onde o risco dos tropeços ele não corria.

    Faz bem pouco tempo eu o encontrei,
    já não um menino, pois muito se passou.
    Até hoje ele cultiva suas manias:
    continua colecionando sonhos,
    dando vida e conversando com as coisas,
    e adora escrever poemas, parece até que são bons...
    Ele diz que é para espantar a solidão.


Nenhum comentário:

Postar um comentário