NALDOVELHO
Guardo certas reservas
com relação aos dias
que transpirem aridez.
Dias que me pareçam sedentos,
embaraçados nas teias do tempo,
com rachaduras por todo lado,
de estreiteza e solidez acidentados,
onde a vida se mostre
plena de desenganos,
lascas, feridas, arestas,
falência de planos,
tudo estranho demais.
Guardo muitas reservas
com relação às palavras
que transpirem desamor.
Elas costumam deixar no rosto
sulcos, rugas, marcas,
coisas causadas pelo desgosto
e pela acidez de lágrimas não
choradas,
de poemas não escritos,
e de uma interminável solidão
que teima em me assombrar.
Prefiro então
colecionar abraços, laços,
sorrisos, carinhos, caminhos,
entrelaçar destinos,
acreditar em dias
que transpirem fantasia,
em música visceral e profana,
pois ainda que haja dias de chuva,
haverá certa leveza no ar.
Guardo certas reservas
àqueles que não gostam de poesia.
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