sábado, 23 de novembro de 2013

A PALAVRA PERDIDA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   NALDOVELHO

   Busco uma palavra perdida, faz tempo,
   entre tantas que eu deixei de falar,
   uma lágrima chorada pra dentro
   por conta de um arrependimento,
   um adeus dito da boca pra fora,
   e eu juro que tentei ir embora,
   mas o trem resolveu não passar.

   Busco uma palavra macia
   capaz de resgatar em mim a magia
   do carinho que eu neguei ofertar,
   de uma história não escrita,
   de um sorriso tristonho e arredio,
   de um poema escondido no armário,
   de uma janela que eu não consigo encontrar.

   Busco o meu amor derradeiro,
   ainda preservo em meus dedos o seu cheiro,
   na mesinha de cabeceira o seu retrato,
   e não raro escuto os seus passos,
   e por tê-la aconchegada em meus sonhos,
   temo que qualquer dia desses
   eu não queira mais acordar.

   Busco uma tarde chuvosa de outono,
   uma música visceral e profana,
   saxofone, contrabaixo e piano...
   Eu queria dizer tantas coisas,
   eu queria mostrar os meus livros,
   e a quantidade de poemas sofridos,
   por conta da palavra que eu deixei de falar. 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

SEMENTE - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   NALDOVELHO

   Por mais que você negue
   a semente sempre estará lá,
   silenciosa no hiato das horas,
   a espera do momento certo
   para poder germinar,
   lado esquerdo do peito,
   e fazer brotar a luz,
   flor do amor que você tem
   para nos ofertar.

   Por mais que você negue
   a face do dia que surge,
   ainda assim, o sol invadirá seu quarto
   por uma fresta que seja,
   e iluminará um pequeno detalhe
   como quem suavemente avisa
   que a vida precisa ser vivida,
   que janelas precisam ser abertas,
   e que é hora de recomeçar.

   Por mais que você negue
   haverá momentos de fraqueza
   a mostrar que na solidão
   só se cultivam espinhos,
   mas que ainda assim,
   você nunca estará sozinho,
   pois no silencioso hiato das horas
   existirá sempre uma luz
   capaz de suavizar seu coração.

   Por mais que você negue
   a necessidade da lágrima,
   de tropeço em tropeço
   haverá um momento,
   em que alguém lhe trará um sorriso,
   um aperto de mão,
   um gesto de delicadeza
   e numa palavra de ternura,
   irá lhe chamar de irmão.  

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

BELEZA PERVERSA - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   NALDOVELHO

   Eu vejo uma beleza perversa
   no poema que transpira novembro
   num misto de sombra e sussurro,
   palavras presas num quarto escuro,
   entardecer numa cidade deserta
   e um vento nostálgico que alerta
   que apesar de ter derrubado muitos muros,
   muitos outros ainda teimam em me aprisionar.

   Eu vejo uma aspereza sombria
   nas palavras que me causam arrepio,
   num misto de sonho e loucura,
   de intimidades reveladas, ternura,
   demônios apaziguados, faz tempo,
   amores eternizados lá dentro,
   pois por mais que ele tenha tentado,
   o mundo não conseguiu me devorar.

   Eu vejo uma certa suavidade na tarde
   que inunda meu coração de saudade,
   palavras, cores, fragrâncias,
   músicas que não me saem da lembrança,
   e aquela beleza perversa
   do poema que transpira novembro,
   se eu bem me lembro, tarde chuvosa,
   um beijo de adeus, um sussurro...

   Eu nunca vou deixar de te amar!

VOARIAM OS HOMENS SE FOSSEM ANJOS - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

    NALDOVELHO

    Voariam os homens se fossem anjos
    e iriam as nascentes dos rios
    sagrar nas águas seus sonhos,
    e escreveriam nas pedras
    os Seus nem sei quantos nomes...
    Mas como anjos ainda não são,
    voam, assim, como homens,
    e de heresia em heresia,
    maculam as águas, destroem as matas,
    sangram a terra, semeiam a fome.

    Voariam os homens se fossem anjos
    e no cume da mais alta montanha
    aprenderiam palavras sagradas de sonho
    e com elas escreveriam num livro
    verdades que não saberiam ainda compreender.
    Pois na realidade, voam com suas asas de homens
    e buscam destruir pelo caminho,
    toda e qualquer evidência da vida
    que Você sonhou que “pudéssemos” um dia viver.

    Voariam os homens se fossem anjos,
    mas como não são, ainda assim voam...

    Mas não O conseguem merecer. 

domingo, 3 de novembro de 2013

VINHO AVINAGRADO - POEMAS DE LUZ E SOMBRAS

   NALDOVELHO

   Uma mesa bem posta,
   solitude e sossego
   uma dúzia de rosas,
   ainda sinto um certo medo,
   pois a pele é fina,
   e o coração em segredo
   costuma aprontar.

   A janela aberta
   ameaça a minha privacidade
   e um vento covarde
   sussurra o teu nome,
   diz que estás tão longe,
   e que também sentes saudade,
   mas que ainda assim não vais voltar!

   Acho que eu já me acostumei
   com esta distância,
   com esta nostalgia,
   com as maldades do tempo
   que te transformou em poesia,
   com estas lágrimas indecisas
   que não conseguem chorar.

   Uma garrafa de vinho,
   tinto, rascante,
   encorpado e inebriante,
   guardada faz tempo,
   restou avinagrada
   por conta dos poemas
   que eu insisto em te dedicar.