domingo, 18 de novembro de 2012

ATRÁS DA PORTA (ARQUIVO)


    NALDOVELHO

   Primavera, novembro, noite deserta,
   e a cidade um tanto ou quanto ensimesmada
   não percebe que as ruas estão nubladas,
   que as esquinas permanecem vazias
   e que a danada da nostalgia
   tomou conta desse lugar.

   Do meu quarto a única coisa que escuto
   é o barulho dos carros em disparada,
   como se tentassem inutilmente fugir...
   Mas eu continuo a viver por aqui,
   buscando as mesmas respostas,
   travando as mesmas batalhas,
   tentando curar minhas feridas.

   É bem verdade, não são as mesmas...
   Sou um poeta desastrado
   que gosta de caminhar entre escombros,
   e que volta e meia teima em se machucar.

   Uma tênue luz abençoa o ambiente,
   na vitrola Elis destila meus tormentos, 
   em cima da mesa: folhas de papel, rascunhos.
   Alguns viram poemas, registros dos meus ais.
   Outros: nada falam, nada revelam...
   
   Primavera, novembro, noite deserta.
   Agora, Elis canta “atrás da porta”,
   e eu continuo a viver por aqui,
   escrevendo sempre os mesmos poemas,
   na esperança de que um dia você venha ler.

    

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