segunda-feira, 12 de novembro de 2012

AO POETA DESCRENTE (LUZ E SOMBRAS)


    NALDOVELHO

   Alguém disse que amanhã nascerá novembro,
   de janela desavergonhadamente aberta,
   de bando de pássaros em animada conversa,
   de louvação as águas que brotam sem pressa,
   de um novo tempo que ousará ser feliz.

   Alguém disse que a vizinha do lado,
   que vive de chorar suas saudades,
   vai parir toda a sua nostalgia
   em poemas de amor eterno
   e que o vento vai lhe trazer um romance,
   e ela sorrirá de alegria e nunca mais será infeliz.

   Alguém disse que o homem rico
   que mora atrás das grades douradas,
   todas as terças-feiras distribuirá seu rico dinheiro
   entre mendigos e arruaceiros
   que em sua porta formarão filas,
   gente faminta e descalça,
   e que ele acolherá em seu quarto
   o enfermo e a meretriz.

   Eu, que sou um poeta descrente,
   prefiro acreditar que o mês de novembro
   vai ser apenas úmido e quente
   e que continuaremos a sofrer nossas dores,
   até que seja ser chegada a hora
   da inquietude que temos ir embora,
   dando lugar a ternura 
   que eu sempre quis ver chegar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário