NALDOVELHO
Eu
tenho o tempo aprisionado em minhas mãos,
e
ele, escravo de minhas vontades, permite
que
eu viaje sempre ao passado
e
traga de lá sementes de palavras fazedeiras
que
no tempo certo germinam
nos
poemas que eu gosto de escrever.
Mas
ele não permite que eu o faça impunemente
e
se vinga toda a vez que eu sonho,
injetando
em minha carne um veneno estranho,
que
contamina os mais secretos recantos do meu ser,
fazendo
com que eu morra um pouco mais a cada verso.
Eu
tenho o tempo aprisionado em minhas mãos,
e
ele, escravo da minha loucura, permite
que
eu mergulhe nas funduras
e
traga de lá coisas esquecidas, cristalizadas,
para
serem trabalhadas com ternura...
Palavras,
imagens, poemas que precisam nascer.
Mas,
uma vez mais ele se vinga,
pois
eu morro um pouco mais a cada instante
e
já não consigo esconder a verdade:
que
o tempo aprisionado em minhas mãos
devora
a vida que eu tenho para viver.