NALDOVELHO
Preciso das manhãs friorentas
de agosto,
resgatar em minha mente
a lembrança da delicadeza do
teu rosto
e na solidão avarandada do meu
tédio,
encontrar a palavra fazedeira
que seja a chave do poema
que eu não ouso concretizar.
Preciso do vento acariciando o
cenário,
abrir portas, janelas,
armários,
arejar prateleiras e
gavetas...
Quem sabe naquele velho
dicionário,
palavras que sejam aveludadas
e que possam extrair do poeta
a paixão que ele não ousa
confessar.
Preciso das tardes chuvosas de
inverno,
e na pieguice que me toma a
alma,
espalhar pelo quarto,
retratos, cartas, bilhetes,
e sonhar com pernas
entrelaçadas,
saliva, suor, sêmen, saudade,
preciso resgatar a coragem
e gritar aos quatro cantos que
te amo!
Preciso urgentemente de um
conhaque,
de uma cigarrilha que seja
cubana,
de uma música visceral e
profana,
preciso acordar no meio da
noite,
e ao sentir o teu cheiro no
travesseiro,
encontrar minha inquietude de
volta,
pois na calmaria eu não
consigo viver.