NALDOVELHO
Numa caixa de sapatos um monte de retratos,
a gaveta da mesinha entulhada de recortes,
uma prateleira na estante entupida de livros,
pelo quarto espalhados pedaços do meu passado,
minhas mãos doloridas de cavar uma saída,
buracos nas paredes, no teto, no chão.
Janelas e portas emperradas faz tempo,
e eu continuo prisioneiro da minha história.
poemas ocultos, encravados lá dentro,
coágulos nas artérias que regam meu coração,
nos pulmões ainda restam alguns cigarros
e nos ouvidos ainda soa aquela canção.
Primavera, verão, outono e inverno,
ainda sinto falta de um bom conhaque,
a glicose continua alta, não consigo controlar,
a vontade anda fraca, melhor nem tentar,
cada dia passado é menos um dia,
qualquer hora dessas vou ter que viajar.
Pela vidraça eu vejo o dia que passa,
e são tantos que ultimamente dei pra contar,
minhas malas estão prontas, já faz um bom tempo,
levo quase nada que seja só meu,
mesmo os poemas, não quero levar,
matriculei-me n'outra escola, vou aprender a pintar.
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