NALDOVELHO
Olhem as lágrimas que
hoje escorrem, são novas feridas, posto que as antigas, restam cicatrizadas e ainda
que vez por outra incomodem, é só quando muda o tempo. Acho que é assim com
todo mundo, nada que deva nos assustar.
Mas ainda assim, eu sei
que há quem faça muitas orações ao Pai, pedindo janelas e portas abertas, saúde,
amores, fartura, proteção contra o tédio, cura paras dores da alma, para
solidão e a loucura; e pedem tantas coisas, e praguejam a cada passo, a cada
embaraço, ao amanhecer, ao entardecer e até na hora da Ave Maria, ao anoitecer.
Mas esquecem de olhar em volta, são tantos os presentes; não percebem o dia, o
nascer do sol, a magia, a poesia de viver, a suavidade da saudade e da nostalgia,
que apesar da ardência que nos traz certo desconforto, fortalece e nos faz
crescer.
Eu aqui no meu canto,
quase não oro, fico constrangido em incomodar o Pai com minhas bobagens, com as
tranqueiras que eu mesmo acumulei vida afora, com a minhas hemorragias, feridas
que inflamadas incomodam... Já disse, acho que deve ser assim com todo mundo,
então: melhor eu mesmo por mãos à obra, pois o Pai deve ter coisa mais
importante a fazer.
Pois é, para tanto eu
me utilizo da palavra poema e desconfio seriamente que esta tenha sido a melhor
ferramenta que o Ele pode me fornecer, e a impressão que eu tenho é que com assim
Ele esta a me dizer: vire-se, você é o comandante do barco, trabalhe, construa,
abra portas e janelas, fortaleça-se para poder superar o tédio, a solidão e a
loucura, cure-se você mesmo das dores da alma, aprenda a se utilizar das asas
de voar por dentro, construa um novo homem, nem que para isto você tenha que
nascer mil vezes, trilhar infinitos caminhos, se perder e se achar, morrer e
novamente nascer, só que diferente... E esta é tua sina, o teu rito sagrado,
não se esqueça, um dia, em algum lugar distante Ele pode precisar de você.
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