NALDOVELHO
Tem um tango indecente
atormentando em minha mente,
um corpo de mulher
alucinando minhas horas,
uma casa em penumbra
assombrando meus dias.
Tem um vidro de perfume
entornado no colchão,
uma cigarrilha cubana,
uma janela entreaberta,
uma lua derramada,
uma dor no coração.
Tem um cheiro forte
de fera se contorcendo no cio,
tem um incêndio estranho
a devorar meu quarto
e eu assim rastilho de pólvora
entregue a inevitável explosão.
E em minhas veias o veneno,
mistura de saliva e lua derramada,
um quê de quero não quero
mais um cálice de absinto
e este maldito tango,
minhas pernas, nem sei onde estão.
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