quinta-feira, 1 de setembro de 2016

SOLIDÃO

    NALDOVELHO

    Mais parecia arrepio,
    sangue, suor, saliva, animal no cio,
    poema de amor e dor escrito pouco a pouco,
    palavras maceradas por um louco,
    alguém assim meio pedra meio rio,
    que desconhecia o sentido da palavra estio,
    que enfeitiçado se atirava num precipício,
    e eu sabia que seria assim desde o início.

    Mais parecia delírio,
    entrelaçadas histórias, embaralhados os fios,
    feito um sonho que raramente acontece,
    e o pecador que eu era ajoelhado numa prece;
    até hoje busco curar minha nostalgia,
    assim meio lágrima, um tanto ou quanto poesia,
    saudade que me encharca por dentro,
    e eu deste jeito já faz um tempo.

    Mais parecia magia,
    cantiga tristonha, elegia,
    pois só eu sei o quanto doeu o feitiço,
    e não há como acabar com isto,
    e assim vou eu, meio poeta meio escombro,
    de joelhos a lamentar meus tombos,
    que embriagado de amor fatiou seu coração,
    e prisioneiro do seu umbigo se entregou a solidão.    


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