NALDOVELHO
É tarde para voltar a dormir,
a lua faz tempo se retirou,
as crianças ainda não conseguem
caminhar livremente pelas ruas,
as portas dos templos permanecem fechadas
e por mais que eu tente não consigo sorrir.
É tarde para destruir meus poemas.
Lá fora, um sol arretado de quente
cozinha os miolos da gente,
e toda a vez que eu tento dobrar uma
esquina,
alguém vem e me impede dizendo
que antes eu preciso apaziguar meu coração.
É tarde para amar outra vez,
para tê-la novamente em meus braços,
olhos nos olhos, pele se atritando com
pele,
pernas e braços entrelaçados,
e eu nem posso pronunciar o seu nome...
Terra árida, pouca umidade no ar.
É tarde para ir embora,
amanha cedo uma nova aurora
e o galo há de cantar três vezes,
e certamente eu ainda poderei
tomar um café forte e melado,
fumar, quem sabe, mais um cigarro,
para depois sair por aí.
É tarde para dizer
que eu não acredito mais em Você.
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