domingo, 15 de novembro de 2015

PAIXÃO DE POETA

    NALDOVELHO

    E a vida passou enfeitada,
    vestido rodado, decote ousado,
    sorriso bonito de quem sabe
    das procuras, dos caminhos
    e do que eles têm para nos ofertar.

    E então ela me envolveu em seus braços,
    beijou minha boca, acariciou meus cabelos,
    sussurrou em meus ouvidos
    sagrados segredos de permanências,
    e como um tolo eu acreditei
    que com ela poderia ficar.

    Depois, me ensinou a escrever poemas,
    mostrou caminhos de desentranhamentos,
    revelou os mistérios das sementes,
    fez com que eu me apaixonasse mil vezes,
    e com dó de mim, me ensinou a chorar.  

    Outro dia a vida me olhou entristecida,
    disse que tudo tinha seu tempo certo
    e que eu estava ficando envelhecido,
    e que no crepúsculo dos meus dias
    ela teria que me abandonar.

    Eu sorri e respondi: tudo bem!
    pois como todo bom poeta
    eu hoje já sabia voar,
    e que há tempos eu estava
    apaixonado pela existência
    e ela havia me ensinado a ficar.


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