NALDOVELHO
É no osso do desgosto
que a solidão faz seu porto,
é no café amargo
acompanhado de um cigarro,
é num entardecer chuvoso de inverno,
dose reforçada de conhaque
para esquentar o coração
e o dia agoniza enquanto anoitece,
ao longe um bolero faz uma prece,
noite que chega sorrateira
e deposita saudades em minhas mãos.
É no osso do desgosto
que a solidão faz seu porto,
é no atritar lento das horas
que a noite nos chama lá fora,
diz que é moça bonita,
cheia de carinhos e prendas,
orvalho, saliva, pecados,
e que na cidade onde ela vive
é impossível não se perder.
Mas ela nem sabe o meu nome,
só sabe dos meus desatinos,
garrafa inteira de absinto,
mais uma noite sem você.