sábado, 29 de dezembro de 2018

PRENÚNCIO DE OUTONO


    NALDOVELHO

    Ontem pela manhã,
    logo após o nascer do dia,
    um vento arruaceiro
    invadiu meu quarto
    e trouxe cheiro de mato,
    alvoroço de pássaros bisbilhoteiros,
    que a todo custo tentavam
    trazer notícias dos longes.
    Algazarra danada,
    pois cada um queria ser o primeiro
    a me passar as novidades:
    dizer que o amor foi mais forte
    e que apesar da distância,
    sobreviveu em nós o encanto.

    Ontem pela manhã,
    logo após o alvorecer,
    a saudade tomou conta do meu canto
    e trouxe cheiro de alfazema,
    o som de um piano
    visceralmente doído, 
    um poema orvalhado e sentido,
    lágrimas no canto dos olhos,
    e uma vontade de fazer um escândalo,
    abrir a janela para o mundo e dizer:
    ainda te amo! 

    Ontem pela manhã,
    um café quente e encorpado,
    a vontade de fumar um cigarro...
    Lá fora, chuva fina, vento frio,
    prenúncio de outono;
    aqui dentro, sobrevive o espanto,
    e um passarinho arruaceiro
    a sussurrar em meu ouvido:
    ainda é tempo, hora de recomeçar,
    pois em algum lugar desta estrada
    nós vamos nos reencontrar.


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