sábado, 19 de maio de 2018

SONHOS E FANTASIAS

    NALDOVELHO

    Lembro bem daquela velha senhora,
    cabelos escorridos, agrisalhados,
    olhos amendoados, aprofundados,
    como se pudessem revelar nossas almas.
    E ela gostava de nos contar histórias,
    a maior parte delas ninguém cria,
    mas ainda assim respeitosamente ouviam,
    pois nelas sempre um ensinamento havia.
    Uma em especial até hoje me assombra:
    a do homem que vivia pelas ruas
    a distribuir sonhos e fantasias,
    mas que a maior parte das pessoas
    normalmente recusavam;
    diziam que não era o caso,
    pois aquelas coisas não lhes apeteciam,
    já que eram viciados no dia a dia
    que os alimentava e consumia.
    O homem ainda assim sorria e insistia:
    uma rosa então, vejam como é bela!
    E eles respondiam que não!
    Só se viessem sem espinhos.
    E homem esperançoso
    continuava, então, o seu caminho,
    pois ele sabia que uma hora
    alguém haveria de querer,
    mas resmungava baixinho:
    gente esquisita esta,
    onde já se viu rosa sem espinho?
    É como querer a vida
    sem a dor que ela possa nos trazer,
    só se sabe da verdadeira felicidade
    quando não se tem medo de sofrer.

    Muito sábia aquela velha era,
    conhecia cada história!

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