domingo, 29 de abril de 2018

QUEM SABE UM DIA EU APRENDO A ORAR?

    NALDOVELHO

    É sempre o mesmo sonho.
    Os tempos são outros,
    mas o espírito é o mesmo
    e apesar do percurso,
    sobrevive em mim o poema.

    É sempre o mesmo amanhecer,
    se não é, parece!
    E ainda que eu não acredite mais
    na magia de um despertar,
    a emoção insiste em me assuntar.

    É sempre a mesma inquietude,
    a mesma solidão de outrora,
    as mesmas portas entreabertas,
    as mesmas janelas escancaradas,
    a mesma vontade de ir embora.

    É sempre o mesmo outono,
    e um trem que nunca passa na hora.
    Às vezes demora demais
    e eu não tenho paciência de esperar,
    às vezes passa antes de eu chegar.

    É sempre a mesma nostalgia,
    vontade de dizer Te amo,
    ainda que eu não saiba
    como pronunciar o Teu nome,
    ou se algum dia eu vou Te encontrar.

    É sempre o mesmo entardecer
    encharcado de suor e lágrima,
    um Pai Nosso que estás no céu
    aprisionado em minha garganta...
    Quem sabe um dia eu aprendo a orar?


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