NALDOVELHO
Preciso
urgentemente cultivar canteiros
onde
eu possa espalhar sementes
e
possa fazê-lo de janeiro a janeiro:
azaleias,
sabiás, lírios e jasmins,
sanhaços,
canários, antúrios e bem-te-vis,
bromélias,
corrupiões, biquinhos de lacre,
e
se possível pencas de colibris;
crisântemos,
orquídeas e curiós,
roseiras,
todas sem espinhos,
e
em especial um pé de amor pelos meus irmãos,
para
que juntos possamos colher na primavera
floradas
de compreensão.
Preciso
urgentemente cultivar canteiros
onde
eu possa espalhar sementes,
e
possa fazê-lo de janeiro a janeiro:
amoras,
carinhos, figos, sorrisos, acerolas,
pitangas,
abraços, pêssegos, cerejas,
tomatinhos
pequeninos e até pimentas,
goiaba,
fruta do conde e limão.
Poesia precisa ser doce, às vezes azedinha,
em
outras, ardida de doer;
colheitas
apropriadas para os corações.
Preciso
urgentemente cultivar canteiros
onde
eu possa espalhar sementes,
e
possa fazê-lo impunemente:
alfazema,
beladona, boldo do chile,
camomila,
capim limão, carqueja,
cavalinha,
cascara sagrada e coentro,
erva
doce, hortelã e erva de São João,
esta
última, especial para tratar depressão.
A
lista é enorme, foi Vó Miudinha quem me deu,
e
elas curam de espinhela caída até constipação,
só
não curam desassossego de poema,
para
este mal não existe solução.
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