domingo, 21 de agosto de 2016

CANTEIROS

    NALDOVELHO

    Preciso urgentemente cultivar canteiros
    onde eu possa espalhar sementes
    e possa fazê-lo de janeiro a janeiro:
    azaleias, sabiás, lírios e jasmins,
    sanhaços, canários, antúrios e bem-te-vis,
    bromélias, corrupiões, biquinhos de lacre,
    e se possível pencas de colibris;
    crisântemos, orquídeas e curiós,
    roseiras, todas sem espinhos,
    e em especial um pé de amor pelos meus irmãos,
    para que juntos possamos colher na primavera
    floradas de compreensão.

    Preciso urgentemente cultivar canteiros
    onde eu possa espalhar sementes,
    e possa fazê-lo de janeiro a janeiro:
    amoras, carinhos, figos, sorrisos, acerolas,
    pitangas, abraços, pêssegos, cerejas,
    tomatinhos pequeninos e até pimentas,
    goiaba, fruta do conde e limão.
    Poesia precisa ser doce, às vezes azedinha,
    em outras, ardida de doer;
    colheitas apropriadas para os corações.

    Preciso urgentemente cultivar canteiros
    onde eu possa espalhar sementes,
    e possa fazê-lo impunemente:
    alfazema, beladona, boldo do chile,
    camomila, capim limão, carqueja,
    cavalinha, cascara sagrada e coentro,
    erva doce, hortelã e erva de São João,
    esta última, especial para tratar depressão.
    A lista é enorme, foi Vó Miudinha quem me deu, 
    e elas curam de espinhela caída até constipação,
    só não curam desassossego de poema,
    para este mal não existe solução.


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