NALDOVELHO
E do fundo daquela manhã chuvosa,
uma estranha voz sentenciou: cuidado!
este menino vai nascer possuído,
é só olhar no fundo do seu umbigo
e vocês vão ver as marcas,
palavras tantas, imagens, viagens,
alma atormentada abraçada a loucura,
a solidão e a clausura,
e a nos trazer questionamentos e estiagens;
este menino vai nascer possuído,
será um poeta com certeza;
procurem logo um pastor,
melhor seria, ainda, um padre
e levem para exorcizar.
E o povo em volta gritava:
melhor não!
Ponham-no a ferros,
aprisionado à sua solidão,
amordaçado em delírio;
coloquem-no em salmoura
e deixem-no em martírio
até que lhe caia os dentes,
e seca se torne sua língua,
e murcho o seu coração.
E a mãe do menino sorria e dizia:
que lá em suas entranhas
o poeta já existia,
Prometeu acorrentado aos versos
sob a proteção dos aflitos,
adaga de revelar conflitos,
fênix que renasce dos escombros,
pois mesmo que destruam o corpo,
sobreviverá eternamente a alma
abraçada a sua imensidão.
E assim nos disse o Pai:
POEMA DA SALVAÇÃO!