NALDOVELHO
Eu tenho um canto triste
engasgado na garganta,
música
que eu não ouso concretizar,
lágrimas
que acovardadas não rolam,
face
árida, sulcada pela solidão.
Eu
tenho um poema apaixonado
que
perambula pela casa,
e
que volta e meia me assombra,
diz
que precisa nascer
antes
que eu o faça morrer.
Eu
tenho uma noite de paixão
misturada
aos meus guardados,
veneno
injetado em minhas veias,
e
por mais que eu negue a saudade
é
ela que alimenta o meu coração.
Eu
tenho uma cicatriz esquisita,
lado
esquerdo do corpo,
que
na mudança de tempo incomoda,
suas
marcas, seus rastros, seu cheiro,
paixão
que eu não ouso confessar.
Eu
tenho um livro de contos,
histórias que eu trago comigo,
lembranças
amareladas,
uma
tapeçaria inacabada,
palavras que eu não consigo pronunciar.
palavras que eu não consigo pronunciar.