NALDOVELHO
O espanto da pele
na contundência do espelho,
a dormência da língua
no fastio das palavras,
o movimento silencioso
entre o quarto e a sala,
o café servido bem forte,
o cheiro adocicado das manhãs,
as notícias de ontem,
que se repetem faz tempo.
A artrite, a artrose,
a ardência nos olhos,
a janela desavergonhadamente
aberta,
os pássaros em passeata
reclamam
da escassez das migalhas pelo
chão.
A luz de um sol pálido de
outono,
o vento frio, a respiração
afrontada,
ainda sinto falta de um cigarro.
Um último livro precisando ser escrito,
versos escassos extraídos do
umbigo
num bloco de papel sobre a
mesa,
palavras inquietas que falam
de um tempo de maior
delicadeza,
que por mais que eu me iluda,
nem sei se de fato eu vivi.
O dia partido ao meio,
o assombro das horas
no desassossego da vida lá
fora...
Aqui dentro, meu coração bate sem
pressa
para que o tempo nunca se
acabe.
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