NALDOVELHO
Poesia é a possibilidade do sonho,
é manhã ensolarada de outono,
janelas e portas abertas
e a passarada toda em festa;
mas às vezes é nublada e fria,
e ainda assim um novo dia,
com café quente e encorpado,
vontade de fumar um cigarro,
inventar caminhos de ternura
onde antes só existia a clausura.
Poesia é saudade, gastura, nostalgia,
candeeiro aceso em noite sombria,
necessidade de viajar mundo afora,
é pacto feito entre o ontem e o agora,
licença para se cometer sacrilégio,
remédio que cura a amargura e o tédio,
conhaque envelhecido, acalanto,
magia que dissolve o meu pranto,
desaguar de águas claras, cachoeira,
que se faz em rio de romper fronteiras...
O poema não!
O poema é outra coisa:
é mostrar minhas asas de viajar por dentro,
é a coragem de materializar sentimentos,
é desconstruir o silêncio a que me obrigo,
é a necessidade de me comunicar contigo,
é a ponte que me permite o abraço
e o carinho a construir novos laços,
é minha bênção, minha verdade, minha oração,
é o jeito que eu tenho de acabar com a solidão.