NALDOVELHO
Hoje,
logo depois do anoitecer,
lua
cheia pousou no meu quintal.
E
ficou lá por um bom tempo;
segundo
ela: assuntos pendentes,
e
também uma boa dose de saudade.
Fiquei
até emocionado!
Imaginem
a lua com saudade do poeta...
Meus
olhos ficaram marejados,
minha
pele toda arrepiada,
por
saber que por mim ela nutria
tanto
bem querer.
Perguntou-me,
então, o porquê
de
eu recusar o poema,
ralhou
comigo fingindo-se aborrecida,
disse
que eu não poderia parar de escrever,
pois
eu não era o dono das minhas verdades,
nem
da magia que eu trazia comigo
e
que o meu compromisso com a poesia
era
o que de mais sagrado poderia haver.
Teve
uma hora que eu fiquei até assustado,
pois
de canto de olho eu vi
São
Jorge de lança em punho
e
o dragão a me olhar de soslaio...
Pensei
até que ele fosse me comer!
Mas
não! Lua cheia disse
que
era só eu tomar tenência,
pois
muito havia ainda o que escrever.
Depois
de um tempo,
ela
sussurrou em meus ouvidos
coisas
que só um apaixonado
conseguiria
entender.
Acariciou
meus cabelos,
beijou
minha boca, e partiu.
Agora
ela está lá em cima no céu
iluminando
toda a cidade
e
eu aqui em meu quarto,
último
dia de maio,
quase
dez horas da noite:
não
faço mais nada
além
de obedecer.