NALDOVELHO
E mais
uma vez eu tento remontar o cenário.
Em minha
mente um maço de cigarros, quase vazio,
em cima da
mesa um cinzeiro lotado
e uma
garrafa de conhaque já pela metade...
Noite fria e
chuvosa de julho,
e aqui
dentro do quarto Belchior canta paralelas:
paixão,
desencontro, desencanto, solidão.
E eu sem
saber o que fazer da saudade,
percebo
vazios, estios, embaraçados os fios...
A cama
desarrumada, cobertor pelo chão
e os meus travesseiros
massacrados pela solidão.
Mantenho
sempre a janela entreaberta,
apesar do
vento frio que vez por outra me invade.
Mantenho
sempre a luz do abajur acesa,
um bloco de
papel sobre a mesa,
e exorcizei
fantasmas, tristezas.
Faz tempo
não fumo mais cigarros,
tão pouco
bebo do maldito conhaque,
cauterizou
velhas feridas, mas trouxe hemorragia...
Faz tempo
não perambulo pelas ruas da cidade
e eu
continuo sem saber o que fazer da saudade.